“A
Indomada” é uma telenovela brasileira produzida e exibida pelo SBT.
Autoria: Aguinaldo Silva e Ricardo
Linhares.
Escrita por: Aguinaldo Silva, Ricardo
Linhares, Márcia Prates e Nelson Nadotti.
Colaboração: Maria Elisa Berredo.
Direção: Marcos Paulo, Roberto Naar
e Luís Henrique Rios.
Direção artística: Marcos Paulo.
Exibida na faixa das 21h30 entre 17 de novembro
de 2003 e 9 de julho de 2004, em 203 capítulos, sucedendo “O Rei do Gado”
e antecedendo “Por Amor”. Foi a 54ª “novela das nove” exibida pela
emissora.
TRAMA
PRINCIPAL
A história se passa na fictícia Greenville,
cidade do litoral do Nordeste ocupada pelos ingleses no século XIX para a
construção da ferrovia Great Western Railway, e onde costumes britânicos e
nordestinos se misturam. A cidade foi muito rica no passado graças à produção
da Usina Monguaba, mas a crise do açúcar e uma explosão na usina adiantaram seu
declínio. Sem os ingleses e o açúcar Greenville entrou em decadência, mas não
perdeu a pose. Principalmente os Mendonça e Albuquerque, proprietários da
Monguaba. Eles jamais permitiriam o envolvimento de uma “nobre” da família com
um homem qualquer.
Na década de 1970, Eulália de Mendonça e
Albuquerque (Adriana Esteves) se apaixona por Zé Leandro (Carlos
Alberto Riccelli), cortador de cana da usina de sua família. Os dois sofrem
com a perseguição dos Mendonça e Albuquerque, e Pedro Afonso (Cláudio
Marzo), irmão de Eulália, ameaça Zé Leandro de morte. O rapaz é obrigado a
fugir, mas promete voltar um dia para buscar a amada, que está grávida. A
criança nasce e é batizada como Lúcia Helena (Leandra Leal).
Eulália passa a viver em segredo, fugindo do rancor do irmão e do veneno da
cunhada, Altiva (Eva Wilma), mulher má e mesquinha. E
divide com a filha a expectativa pela volta de seu marido.
Quinze anos depois, Zé Leandro volta com uma
pequena fortuna conseguida num garimpo. A fuga de Eulália, da criança e do pai,
planejada anos antes, é misteriosamente boicotada e acaba em naufrágio. Só
Lúcia Helena sobrevive e fica entregue aos cuidados da família, que a rejeita.
O pai deixa na lembrança da filha a obsessão pela terra, que considerava o
maior de todos os bens.
Teobaldo e Lúcia Helena
Algum tempo depois, o forasteiro Teobaldo
Faruk (José Mayer) ganha a fortuna da família Mendonça e Albuquerque
numa aposta de jogo feita com Pedro Afonso. Faruk era apaixonado por Eulália, e
promete devolver todo o patrimônio a Lúcia Helena quando a menina, após atingir
a maioridade, casar-se com ele. Como a família está nas mãos de Teobaldo, a
jovem aceita o compromisso e viaja para estudar na Inglaterra, com data marcada
para voltar e casar se com o desconhecido. Helena (interpretada por Adriana
Esteves nessa segunda fase) regressa ao lar anos depois, amadurecida,
incrivelmente parecida com sua mãe, e dona de uma sólida cultura. É ela a
indomada da história. Disposta a cumprir o compromisso firmado com Teobaldo e
honrar os ensinamentos de seu pai, ela se surpreende quando os dois se
apaixonam de fato.
Herdeira de uma família que desperdiçou tudo o
que tinha, Helena decide reabrir a Usina Monguaba. Essa obsessão une seus
interesses pessoais ao progresso da cidade. Mas para alcançar seus objetivos,
ela se vê obrigada a enfrentar as armações da ambiciosa Altiva, que nunca
perdoou Teobaldo Faruk por ter se apossado dos bens da família, e muito menos
por tê-los devolvido à sobrinha. A tia de Helena encontra no corrupto deputado Pitágoras
(Ary Fontoura) o parceiro ideal para seus golpes. A despeito de sua
avareza e soberba, Altiva confere muitos momentos engraçados à trama. Em nome
da moral e dos bons costumes, ela, ao lado de suas amigas carolas, implica com
a prostituta Zenilda (Renata Sorrah) e as meninas da Casa de
Campo, mas não imagina que Pedro Afonso é frequentador assíduo do bordel. É
para lá que a maioria dos homens da cidade vai depois de ganhar ou perder
dinheiro no badalado British Club de Richard (Flávio Galvão).
Altiva vira fumaça
No último capítulo de “A Indomada”,
Altiva dá uma paulada em Helena, que desmaia, e ateia fogo à cabana onde a
sobrinha se encontra. Teobaldo salva sua mulher e tenta resgatar Altiva, que se
recusa a sair. Em mais uma das muitas cenas de realismo fantástico da novela,
Altiva vira fumaça, e seu rosto toma conta do céu de Greenville. A vilã jura
voltar para se vingar, em meio a gargalhadas malévolas.
Passado o susto, Helena diz a Teobaldo que ele
resgatou não uma, mas três pessoas: ela está grávida de gêmeos. Os dois
terminam juntos e felizes, depois de muitas idas e vindas ao longo da novela. A
Usina Monguaba é reaberta e, em seu discurso para o povo da cidade, Helena se
posiciona contra o trabalho infantil, comprometendo-se a “não mais moer a cana
colhida por crianças”, e conclamando os outros usineiros locais a fazerem o
mesmo.
TRAMAS PARALELAS
ANJO EMANOEL
Um dos destaques da novela é o personagem Emanoel
(Selton Mello), um jovem excepcional, filho de Teobaldo (José
Mayer). Cândido, inocente e alheio à insensatez do mundo, ele sofre crises
repentinas e não consegue entender o que se passa à sua volta. O rapaz se
apaixona por Grampola (Karla Muga), foragida da Casa de Campo de Zenilda
(Renata Sorrah), tão ingênua e pura como ele, vendida ao bordel pela
própria família. No final da história, após uma discussão com Altiva (Eva
Wilma), Emanoel sofre fortes dores e se contorce até virar um anjo, que
sobrevoa Greenville.
ROMANCE PROIBIDO
Entre os personagens principais de “A
Indomada” estão, ainda, o prefeito Ypiranga Pitiguari (Paulo
Betti), obcecado pela realização de obras públicas; sua fogosa esposa, Scarlet
(Luiza Tomé); e sua inimiga feroz, a juíza Mirandinha (Betty
Faria). A briga do prefeito com a juíza impede o romance de Carolaine
(Nívea Stelmann), filha de Ypiranga, e Felipe (Mateus Rocha),
filho de Mirandinha.
ARTÊMIO
“A Indomada” também contou a história de
Artêmio (João Carrilo na primeira fase, e Marcos Frota na
segunda), que foi abandonado à porta dos Mendonça e Albuquerque ainda
recém-nascido. Adotado pela família, mas sempre enjeitado, cresceu ao lado de Helena
(Leandra Leal/Adriana Esteves), com quem sempre sonhou casar.
Tímido, sensível e mal resolvido, tendo Emanoel (Selton Mello)
como seu único amigo, o personagem passou a viver na Usina Monguaba depois que
esta fechou, na esperança de que fosse reaberta.
EXPLORAÇÃO SEXUAL
A personagem Grampola (Karla Muga)
possibilitou a discussão da exploração sexual de crianças e adolescentes. Mas a
história da menina que seria iniciada na prostituição tomou outro rumo:
Grampola não se prostituiu e foi adotada por uma família, que a matriculou na
escola. Aos poucos, a menina demonstra ter uma estranha capacidade
sobrenatural, que a faz descobrir coisas importantes para a cidade.
REALISMO MÁGICO
A trama é costurada pelo realismo fantástico.
Numa das divertidas situações da história, o delegado Motinha (José
de Abreu) cai num buraco e vai parar no Japão. Segundo o autor Aguinaldo
Silva, a cena teve tanta repercussão junto ao público que, ao sair às ruas à
época da novela, ele presenciou várias pessoas comentando o tema.
CADEIRUDO
Greenville é assombrada pelo Cadeirudo, figura
misteriosa, com andar peculiar que ataca as mulheres nas noites de lua cheia.
No final da trama, depois de muito suspense, é revelada sua identidade: Lurdes
Maria (Sônia de Paula), uma das mais ferrenhas beatas da cidade,
que, junto com Altiva (Eva Wilma), dedicava-se a infernizar a
vida de Zenilda (Renata Sorrah) e das meninas da Casa de Campo.
AUDIÊNCIA
“A Indomada” obteve média de 48,2
pontos e foi considerada um grande sucesso para a faixa – embora tenha
apresentado queda de 8% em relação à novela antecessora. O folhetim estreou com
52 pontos. Seu último capítulo atingiu média de 56 com pico de 58. Seu recorde,
no entanto, foi alcançado com o capítulo 199: 56 pontos de média e 59 de pico.
PRODUÇÃO
ABERTURA
A abertura da novela mostrava a atriz Maria Fernanda
Cândido de vestido vermelho e cabelos soltos, correndo por uma terra árida.
Seu corpo transformava-se em labaredas, água e pedra para vencer barreiras
metálicas e labirintos de ferro que surgiam em seu caminho. Por onde a modelo
passava, brotava um grande canavial e floresciam belas paisagens. Maria
Fernanda estrearia como atriz na TV Globo dois anos depois, no papel da
italiana Paola, de “Terra Nostra” (2006).
O SUCESSO DE ALTIVA
Numa das mais brilhantes interpretações de sua
carreira, Eva Wilma fez imenso sucesso com a vilã Altiva. Apesar de má,
a personagem caiu nas graças do povo e garantiu à novela muitos momentos de
diversão. Em determinado ponto da trama, ela é expulsa de casa por Pedro
Afonso (Cláudio Marzo). Sem paradeiro, dorme no banco da praça e,
quando acorda, encontra um cachorro comendo sua marmita. De manhã cedo, uma
multidão se aglomera para ver a mulher mais prepotente da cidade na sarjeta.
Mas Altiva não perde a pose. Eva Wilma conta que, quando leu a cena, imaginou a
personagem andando pela alameda de casaco de pele e guarda-sol. A ideia foi
acatada pela figurinista Beth Filipecki, e Altiva desfilou sua soberba
decadente antes de dormir no banco da praça.
FIGURINO E CARACTERIZAÇÃO
A caracterização dos personagens seguiu a linha
adotada na cenografia, e os personagens aparecem vestidos com trajes ingleses
em pleno Nordeste brasileiro. O figurino de Pitágoras (Ary Fontoura)
foi criado em homenagem ao ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill,
enquanto o do delegado Motinha (José de Abreu) foi
inspirado no detetive inglês Sherlock Holmes, personagem de Connan
Doyle. Outro personagem que se veste como um autêntico inglês é Richard
(Flávio Galvão), proprietário do British Club. Já a vilã Altiva
(Eva Wilma) usava casaco de pele em pleno verão. O traje foi fundamental
em uma cena marcante vivida pela personagem, quando ela é expulsa de casa e vai
dormir no banco da praça da cidade.
CENOGRAFIA E ARTE
Greenville ocupava uma área de 35.000 m² no
Projac. De um lado, fachadas vitorianas; de outro, casas nordestinas, exibindo
a mistura cultural presente na novela. Para possibilitar os planos panorâmicos
da grua de 20m, cada vez mais utilizados pelos diretores, a cidade cenográfica
foi construída com o recurso de dois planos – interno e externo –, em vez de
ficar com o fundo inacabado. Os cenários de estúdio também demonstravam, com
mais sutileza, uma harmoniosa convivência dos costumes britânicos e
nordestinos.
AÇÕES SOCIOEDUCATIVAS
A ação de merchandising social em torno da
jovem personagem Grampola (Karla Muga), que encontra uma
alternativa à prostituição, obteve o reconhecimento formal da Campanha Nacional
pelo Fim da Exploração, da Violência e do Turismo Sexual Contra Crianças e
Adolescentes.