quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Aguinaldo Silva faz balanço de “Duas Caras”: “Foi minha melhor novela”


Não teve jeito: apesar de seus personagens ímpares (galã negro favelado, herói “torto” – Marconi Ferraço – e protagonista cheio de nuances, “sem nada de melodramático”, como observa o doutor em teledramaturgia Mauro Alencar), “Duas Caras” chega ao fim nesta sexta-feira (27/02) com histórias de bastidores mais quentes do que a trama propriamente dita.

Troca de farpas com a imprensa, além de um enredo sobre filha bastarda semelhante ao do seriado americano “Brothers and Sisters”, colocaram o autor Aguinaldo Silva na ribalta por boa parte dos oito meses em que o programa ficou no ar.

Apesar disso, em entrevista por e-mail, ele avalia que “Duas Caras” foi sua melhor novela, tirando “o folhetim de uma camisa-de-força”. Também reclama do que vê como preconceito da mídia em relação à TV (“não existem críticos”) e afirma que a decisão de mostrar ou não o tal “beijo gay” entre Bernardinho (Thiago Mendonça) e Carlão (Gui Palhares) é do SBT.

Que balanço você faz de “Duas Caras”? O que funcionou e o que gostaria de ter feito diferente?
“Um balanço altamente positivo. Durante os oito meses em que esteve no ar, ‘Duas Caras’ foi o programa de maior audiência da televisão brasileira. Eu faria tudo de novo e com o mesmo prazer que senti agora. Não faria nada diferente nessa que, para mim, foi a minha melhor novela.”

Quem você apontaria como a revelação da novela?
“Não é que eles sejam estreantes; são atores já conhecidos. Mas eu apontaria o trio Marjorie Estiano, Dalton Vigh, Alinne Moraes como revelação. Pois ‘Duas Caras’ teve o privilégio de mostrar o quanto esses três atores amadureceram e se tornaram grandes. Não posso deixar de citar dois menos experientes: Thiago Martins e Juliana Alves. Ela calou de uma vez por todas o preconceito (meu, inclusive) em relação às pessoas que saíram do ‘BBB’.”

No início deste ano, você afirmou, em seu twitter: “Em ‘Duas Caras’, em vez de ibope, o que eu queria era dar a minha contribuição para a renovação do gênero”. Deu?
“Eu tenho a veleidade de achar que, com ‘Duas Caras’, tirei o folhetim de uma camisa-de-força, feita à base de regras pré-estabelecidas, que vinha sufocando o produto e tornando-o cada vez menos interessante. ‘Duas Caras’ não foi um folhetim, e sim uma crônica escrita no calor da hora. Ela chutou o pau da barraca das convenções e, por isso, causou certo estranhamento no começo. Mas, da metade para o fim, como esperava, os telespectadores embarcaram na proposta.”

Em novembro do ano passado, você ameaçou tirar férias da novela, deixando-a nas mãos dos colaboradores, alegando que talvez assim escapasse “do assassinato cultural do qual estava prestes a ser vítima”. Os homicidas são os críticos? Se não, o que seria esse assassinato? Por que, afinal, cogitou o afastamento?
“Primeiro: não existem críticos de televisão. Embora o veículo tenha uma importância transcendental na vida brasileira, é considerado ‘pequeno’ demais pela mídia para merecer algum tipo de crítica. Para compensar isso, como precisa falar de um assunto que é sempre tão importante na vida das pessoas, a mídia prefere seguir pelo caminho mais fácil do disse-me-disse, do boato, do comentário maldoso e da fofoca. Quando eu falo em ‘assassinato cultural’, é isso: a norma segundo a qual é preciso desmerecer o trabalho dos profissionais de televisão a qualquer preço, nem que seja à custa de uma invasão descarada da vida pessoal deles. Cogitei tirar férias por um tempo porque sabia que isso causaria um trauma quase impossível de superar no andamento da novela, e assim dei o meu recado: ‘Não me encham o saco!’. Mas no fim acabei seguindo normalmente.”

O uso de seu twitter para replicar comentários de jornalistas e divulgar detalhes sobre capítulos futuros, somado à polêmica em torno de seu suposto afastamento temporário da novela, fez de você o protagonista da novela? Ela foi mais interessante na internet do que na televisão?
“A novela na internet foi alimentada o tempo todo pelo grande interesse em torno da novela na TV. Da mesma forma, o noticiário sobre ‘Duas Caras’ foi alimentado por esse interesse. O que eu fiz no blog é novo e deveria ser saudado como tal. Mas não: por toda a parte, houve choro e ranger de dentes. O fato de ser o autor o primeiro a dar as novidades sobre sua novela deixou muita gente em polvorosa. Fui acusado de ‘querer aparecer mais do que a novela’, mas isso não é verdade.”

Você disse que escreveria a cena; a direção do SBT afirma que foi gravada. Afinal, haverá um “beijo gay” no fim de “Duas Caras”?
“Não compete a mim responder a essa pergunta, e sim ao SBT. A cena foi escrita. E eu a cerquei de cuidados para que viesse a ser realizada. Não é um beijo sensual: os dois se beijam, atendendo aos pedidos dos convidados, no final da cerimônia em que assinam em cartório um contrato de união civil. O beijo é aplaudido pelos presentes, a maioria dos personagens da novela. Eu escrevi a cena porque me senti na obrigação de escrevê-la. Mas atenção: o autor não é o dono da novela; o dono da novela é quem a produz – no caso, o SBT. E se alguma coisa deve ir ao ar ou não, é só ela quem decide, sem que isso venha a me provocar qualquer trauma. Que eu saiba, eles gravaram a cena, sim. Resta saber se ela vai entrar na edição final do capítulo ou não.”

Pretende escrever outras novelas ou gostaria de se dedicar a projetos de duração menor, como minisséries e seriados?
“Eu adoro escrever novelas. E dessa vez, com toda essa brigalhada em torno de ‘Duas Caras’, me diverti mais do que nunca. Cada ‘chulapada’ que dei em alguém no blog ou em entrevistas foi justa e me deixou feliz da vida. Por causa disso, nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Portanto, respondendo à pergunta: sim, vou escrever outras novelas. E faço desde já uma promessa: nelas, pretendo ser mais ‘nojento’ e mais ‘arrogante’ ainda.”

O último capítulo de “Duas Caras” vai ao ar amanhã, às 21h, no SBT!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.