sábado, 28 de junho de 2014

Aguinaldo Silva fala sobre “Duas Caras”, próxima novela das 9

Aguinaldo Silva é um autor recordista. Têm em seu currículo grandes sucessos, tais como: “Tieta” (1996), “Pedra Sobre Pedra” (1998), “Fera Ferida” (2000/2001) e “Senhora do Destino” (2011). Ele também é o único autor que até então só escreveu para o horário nobre do SBT. Trabalhou como repórter policial no jornal O Globo na década de 60, e somente a partir da década de 80 é que teve o seu primeiro contato com a televisão escrevendo a série “Plantão de Polícia”. Foi consagrado nacionalmente ao escrever e colaborar com Dias Gomes o mega sucesso “Roque Santeiro” (1992), bem como a novela “Vale Tudo” (1995), onde foi co-autor ao lado de Gilberto Braga. Seu último sucesso foi “Senhora do Destino”, que é a recordista de audiência do horário nos últimos 10 anos.

Depois de grandes sucessos, Aguinaldo Silva prepara mais uma novela: “Duas Caras”. A trama, que conta com um elenco estrelar e com direção geral de Wolf Maya, estreia na próxima segunda (30/06) substituindo “Paraíso Tropical”. O autor comentou sobre a criação de sua nova obra, bem como, o núcleo da favela e boatos sobre a escalação do elenco. Confira:

Como é sua rotina quando está escrevendo uma novela?
“É uma rotina ‘de cão’. Acordo às cinco e meia da manhã, às 7 já estou no computador. Trabalho até meio-dia e aí, como ninguém é de ferro, faço um lanche, deito e durmo até as duas. Então levanto e volto para o computador. Mais trabalho, até por volta de 18 horas, quando paro e preparo o meu jantar. Gosto de cozinhar e faço isso todos os dias. Depois do jantar está na hora de ver a novela: sempre na hora, junto com os demais telespectadores que, penso eu, assim me passam uma grande energia. Quando a novela termina, troco impressões com o Wolf (Maya, o diretor), vejo um pouco de um DVD, leio durante 40 minutos e à meia-noite e meia em ponto vou dormir. Isso dia após dia, semana após semana, mês após mês... Nada que não seja relacionado com a novela pode interferir nesta rotina.”

Você escreveu várias novelas com realismo fantástico. O que te levou a mudar de gênero?
“A realidade atual. Perto dela o realismo fantástico virou coisa de livro infantil. Não faz sentido botar uma vaca voando na novela, se o telespectador sabe que o que está voando em torno dele são balas perdidas. O cotidiano das pessoas ficou tão absurdo que o realismo mágico perdeu o impacto. Além disso, outros autores resolveram se dedicar ao gênero, e isso serviu pra reforçar ainda mais a minha decisão de partir pra outra.”

Até hoje, você só escreveu novela das 21h. Não tem vontade de escrever para um outro horário?
“Eu não! Primeiro porque o fato de ser o único autor que só escreveu para o horário das 21 horas vai me render um rodapé no livro de história da televisão. E segundo porque não tenho o menor apetite pelos outros horários. Nem mesmo pra minisséries como elas são feitas atualmente - todas históricas e pesadíssimas - eu tenho apetite. Em 2003, supervisionei ‘Meu Bem Querer’, do Ricardo Linhares, para às 19h. Gostava da novela, mas o horário não me atiça. Agora, supervisionei 30 capítulos de ‘Tempos Modernos’, também das 19h, que estreia na outra semana. Não senti vontade de arriscar, mais uma vez.”

“Duas Caras” será sua segunda novela realista depois de “Senhora do Destino”. Como surgiu a sinopse da novela?
“Da necessidade de escrevê-la. Explico melhor: eu sou um gatilho de aluguel. Só trabalho se me derem um prazo. O SBT me ligou e disse: queremos uma sinopse pro dia tal, porque queremos você pra substituir o Gilberto Braga. Aí eu mandei bala. Fui lá nos meus arquivos implacáveis, peguei meia dúzia de recortes de jornais, outros tantos esboços de histórias, driblei aqui, filigranei ali... Nenhum mistério, no dia marcado estava pronta a sinopse. Quem leu achou, como dizem os portugueses, ‘espampanante’. Mas eu só fiz o meu trabalho.”

É verdade que você alterou a sinopse da novela a pedido do diretor Mário Lucio Vaz e acrescentou o núcleo da favela, devido o sucesso de uma novela de emissora concorrente?
“Se alguém disser isso na minha frente eu saco da minha arma... Que é de brinquedo é claro. O primeiro autor a usar uma favela como cenário de novela fui eu, em ‘Senhora do Destino’, ô gente sem memória. E eu nunca – mas nunca mesmo – tive que alterar uma sinopse, pois se alguém me pedisse pra fazer isso eu preferia esvaziar as gavetas e ir embora. Aliás, estou sempre pensando em fazer isso. Ir embora e largar tudo é o meu maior sonho de consumo. Pelo contrário, o que eu ouvi, não de Mário Lúcio, mas de uns e outros, foram restrições: uma favela no horário das nove?... Eca! Mas isso foi só até que leram a sinopse e então viram que há favelas e favelas... E a minha é uma daquelas...”

Na verdade como funcionará o núcleo da favela? Você pode explicar um pouco sobre este núcleo? A novela vai mostrar cenas, como invasão e troca de tiros?
“A invasão sim, pois a favela nasce no começo da novela. Troca de tiros não, pois na minha favela moram trabalhadores, e o que impera é a lei e a ordem, ainda que mantidas por uma figura bastante polêmica que é o todo poderoso chefão Juvenal Antena, interpretado magistralmente pelo Antônio Fagundes. Tenho que parabenizá-lo porque ao mesmo tempo que tem esse papel de peso em ‘Duas Caras’, também está fazendo o protagonista da ‘Tempos Modernos’. E tá muito bem! Mas voltando ao personagem, ele liderou a invasão do terreno e a criação da favela, e a transformou numa espécie de reino pessoal. De um modo ou outro todos lhe devem favores, e é assim que ele impera. Como acontece na vida real, a favela se mistura aos bairros de classe média que a rodeiam. Seus moradores trabalham nas casas e no comércio próximo. Essa história de que na favela só tem bandido, tiroteio e tráfico é conversa de quem nunca foi numa delas. E eu fui em muitas, ainda na semana passada fui comer um Baião de Dois, que aliás estava delicioso, lá na Favela de Rio das Pedras. Sou também um frequentador contumaz da Barraca da Preguiça, na Favela da Coca-Cola, ali em Curicica. E de algumas barracas, na Muzema e na Tijuquinha, onde se faz um peixe de comer orando. Até já casei com gente da favela. Ou seja: não aprendi sobre elas lendo livros de sociologia, eu vou lá e me misturo com os moradores.”

O personagem central de “Duas Caras” é um estelionatário que aplicará golpes, e, depois se disfarçará com plásticas, após roubar toda a herança da mocinha. O que você pode adiantar sobre o casal central?
“Não posso adiantar nada. Ou alguém bota minha história numa outra novela, e você depois ainda me pergunta: ‘será que o Mário Lúcio Vaz pediu pra você mudar a história do casal principal por causa da novela tal?’ Hehehehehehe.”

Comente um pouco sobre as tramas paralelas e temas que você pretende abordar na novela em geral.
“São tantas histórias... Você mesmo acreditou numa informação falsa segundo a qual minha novela tem 110 personagens. Tem não, são só 50, o resto é elenco de apoio, que é sempre muito grande em toda novela: motoristas, secretárias, office-boys, copeiros, empregadas. Além disso, como eu tenho uma favela enorme como cenário, foi preciso enchê-la de figurantes, e o Wolf Maya decidiu que eles seriam tipos vividos por atores, tão perfeitos que até eu, quando estive lá a primeira vez, pensei que eram moradores das favelas próximas.”

Houve uma dificuldade muito grande para fechar o elenco de “Duas Caras”. No entanto, terá o melhor elenco dos últimos anos no horário das 21h. Na sua opinião, por que a novela teve esta dificuldade toda?
“Essa dificuldade foi um mito alimentado pela mídia. Três atores não puderam fazer a novela: José Mayer, Du Moscovis e Mariana Ximenes. Dos três eu e o Wolf ouvimos explicações convincentes para tal. É normal, na escalação de um elenco, que não se consiga a adesão de alguns atores ao projeto, já que estes, por razões pessoais ou profissionais, não podem participar dele. O elenco estava fechado há um mês, os atores já tinham gravado uns 15 ou 20 capítulos, e eu ainda lia nos jornais que Fulano ou Beltrano não queriam participar da novela. Gracinha. Vocês acham mesmo que, independente do autor, tem tanta gente assim dizendo não à novela das 21 horas?... De novo: hehehehehehe!”

A escalação do protagonista foi uma destas principais complicações. Como chegaram ao nome de Dalton Vigh?
“Não é segredo pra ninguém que nossa primeira opção era Du Moscovis. Eu fiz questão de dizer isso assim que as escalações começaram. Como este não pode fazer, eu disse ao Wolf: pois muito bem, eu quero um grande ator cujo nome também comece com a letra D. E aí ele exclamou: Dalton Vigh! Você pode até não acreditar, mas foi assim...”

Mariana Ximenes estava confirmada na novela, mas desistiu quando trocaram o seu papel com o de Marjorie Estiano. A atriz disse que recusou por estar cansada, pois vinha emendando um trabalho atrás do outro. Você poderia explicar por que houve a troca e se Mariana Ximenes realmente já tinha aceitado fazer a protagonista?
“Não. Desde que foi contatada, a Mariana disse que estava cansada. Ela nunca foi confirmada para nenhum papel, embora eu a quisesse para fazer a Silvia. Mas estava cansada fazendo teatro, participações em novelas e, se você quer saber, eu achava que ela vinha aparecendo demais nos últimos tempos, e merecia sim um descanso de imagem. Então procuramos a Aline Moraes, e ela disse que o João Emanuel Carneiro a havia procurado uns dois dias antes de mim para convidá-la para a primeira novela que ele irá escrever para às nove, que virá depois da minha. Aí Wolf propôs a troca: Aline pra nós, Mariana pra próxima das nove. Aline se mostrou disposta, João Emanuel aceitou e foi tudo perfeito. Quanto à escolha de Marjorie, pra mim foi um achado. Ela é uma das atrizes mais carismáticas surgidas nos últimos dez anos, acho que disso ninguém discorda, e já estava merecendo um papel de protagonista.”

Susana Vieira e Renata Sorrah mais uma vez serão rivais. Você não acha que o público pode fazer comparações com a novela “Senhora do Destino”?
“O público não compara uma novela com outra se a história é boa. Comparações quem faz é a mídia. O problema é que esta, ao fazê-las, dá a impressão de que está falando em nome dos telespectadores. E não há nenhum tipo de perversão nisso. É que, pra mídia, é bom que a novela seja mal falada, pois isso é que dá notícia. Eu fui jornalista durante dezoito anos e sei que a turma, não por deformação, mas por dever de ofício, sempre torce contra. O problema é que a novela, quando pega, é um rolo compressor que passa por cima do pé de todo mundo... E esmaga!”

“Senhora do Destino” é a maior audiência do SBT dos últimos 10 anos com uma média geral de 50,5 pontos na Grande São Paulo. “Paraíso Tropical”, a antecessora de “Duas Caras”, está chegando ao fim com 43 pontos. Você tem preocupação em relação à audiência? Espera recuperar o horário ou quem sabe bater seu próprio recorde de “Senhora”?
“O importante é que, qualquer que seja a audiência de ‘Duas Caras’, eu continuarei sendo o recordista. Outra vez: hehehehehehe! Mas, falando sério: essa história de audiência é um pavor, o autor sente como se tivesse o pescoço sempre exposto à guilhotina. De algum modo a gente precisa se livrar dessa pressão da audiência, ou isso acaba influindo de modo negativo no nosso trabalho. ‘Senhora do Destino’ foi um sucesso sim, mas quem disse que ‘Paraíso Tropical’ não foi? Está aí, dando 50 pontos de média, subindo a cada capítulo. Só teve um início complicado, mas também é um grande sucesso. E estamos conversados.”

Você já escreveu grandes vilões, como, por exemplo, Adma em “Porto dos Milagres” e Nazaré em “Senhora do Destino”. Em “Duas Caras” quais são os vilões da vez?
“Dessa vez eu vou tentar inovar em relação aos meus trabalhos anteriores. O vilão é Marconi Ferraço, o personagem de Dalton Vigh. Ele é mau feito o picapau, mas a certa altura resolve que vai se tornar bom a qualquer preço. Isso é coisa de Dostoievski, embora eu desconfie que ninguém saiba mais quem é esse. O problema é que alguém que praticou vários crimes não pode simplesmente se arrepender, entrar para uma igreja qualquer, dar glórias a Deus e permanecer impune: tem que pagar pelo que fez. Esse é o dilema do personagem: torna-se bom e vai preso ou retoma a carreira de maldades?”

O personagem de Rodrigo Hilbert seria assassinado. O que te levou a mudar e mantê-lo na novela?

“O visual dele. Quando eu vi como ele ficou depois de devidamente trabalhado pelo Wolf Maya e sua equipe, eu pensei: não dá pra gente se livrar desse carinha! Daí incrementei a história de Ronildo, o personagem do Rodrigo. Agora ele vai até o fim da novela e, posso garantir: com grande destaque!”

Com quantos capítulos escritos você pretende estrear a novela? Você não se preocupa em estrear uma novela com muitos capítulos escritos sem saber a sua aceitação?
“O SBT sempre pede pra termos uma grande dianteira, de uns três meses em base na exibição. Todas as minhas novelas estrearam com uma média de 80 capítulos escritos. Ao todo, foram treze. Com ‘Duas Caras’, estou no 77. Só tive que me preocupar com isso em ‘Suave Veneno’, pois estreou com 40 e aí eu tive que escrever feito louco. Também, com esse nome horroroso, queriam o quê? É claro que a novela não ia dar certo, gente! É verdade que eu também escrevi ‘Fera Ferida’ e ela, mesmo com esse título xexelento, bateu recordes. Enfim... Se não der certo eu não faço drama: só reescrevo.”

“Duas Caras” vai ser a primeira novela das nove do SBT gravada totalmente em alta definição para atender ao padrão de televisão digital que passa a vigorar em agosto. O SBT já utilizou desta nova tecnologia na novela “Sinhá Moça” e nos primeiros capítulos de “Paraíso Tropical”, e houve algumas reclamações por parte do público. Você não acha arriscado lançar uma novela gravada em “alta definição” antes do lançamento da TV Digital?
“A TV Digital será lançada em agosto, primeiro em São Paulo, e depois em outros Estados, quando a novela estiver no ar. E numa determinada região de São Paulo a televisão, ainda que em fase experimental, já é digital. Assim, não tivemos outra saída senão gravar a novela em HD desde o começo. Os casos que você citou em sua pergunta foram na verdade experiências e, como tal, tiveram que ser ajustadas. Pra valer vai ser agora. E pelo que eu vi valeu a pena errar antes, já que estamos acertando em ‘Duas Caras’. A qualidade da imagem, pelo menos do que eu vi, é o que há de mais sensacional.”

Alguns autores gostam de escolher as músicas que compõem a trilha sonora de sua novela. Você também gosta?
“Eu não! Cada macaco no seu galho. Autor escreve, diretor dirige, ator interpreta, produtor produz e diretor musical cuida de música. Se eu fosse escolher, só botaria musica de Cole Porter na trilha da minha novela. Seria ótimo pra meus ouvidos, mas os ouvidos dos outros iriam dizer: que coisa mais antiga!”

Dalton Vigh deu um susto na equipe nos últimos dias devido a problemas de saúde. As gravações da novela já estão adiantas, ou a ausência de Dalton atrapalhou um pouco?
“Assim como o roteiro, as gravações estão adiantadas dentro do previsto. Já temos 38 capítulos gravados. O problema com o Dalton resultou no atraso da gravação de só duas cenas, mas nada que pudesse atrapalhar o andamento geral. Incidentes, durante as gravações de uma novela, acontecem, e estamos todos preparados.”

Na década de 90, Aguinaldo seguiu uma linha de novelas regionais com tipos marcantes e realismo fantástico. Foi uma fórmula de êxito, mas o autor resolveu inovar e apostar em temas realistas, tais como o sequestro de uma criança, que foi abordado em “Senhora do Destino”. Em “Duas Caras” não será diferente, o vilão da novela será o protagonista interpretado por Dalton Vigh. O foco da trama é a história de um homem que depois de aplicar vários golpes tentará se redimir, mas antes disto, vai pagar pelos seus erros.

A estreia de “Duas Caras” ocorre nesta segunda-feira (30/06), às 21h, no SBT.

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