Gabriela, de Jorge Amado, continua em plena forma 54
anos depois de ser idealizada por Jorge Amado no romance “Gabriela, Cravo e Canela”. E isso não tem nada a ver com a beleza
de Juliana Paes, sua intérprete no
remake que estreia nesta segunda às 22 horas, no SBT. A liberdade com a qual a
personagem encara a vida lhe dá força mesmo nos dias atuais.
“Gabriela expressa uma liberdade que ainda hoje é rara
de se encontrar”, diz Walcyr
Carrasco, autor do roteiro. O comportamento da personagem, de certa forma,
reflete a leveza que Jorge Amado acabava de reencontrar. Quando escreveu o
romance, Amado estava desconfortável em sua crença no comunismo, depois de
tomar conhecimento das barbaridades da ditadura stalinista na União Soviética.
Se não chegou a
mudar de lado na política, o escritor percebeu, ao menos, que a literatura
deveria ser mais que uma ferramenta de propaganda ideológica. Por isso,
Gabriela é um livro de crítica social, sem esquematismo. Na história ambientada
no Brasil dos anos 20, a bela baiana esbarra em figuras que moldaram a forma de
fazer política no país, como os coronéis e seus jagunços. “Amado retratou processos que ainda estão na raíz de muita coisa que
acontece no Brasil. Para entender o presente, é preciso compreender o passado”,
diz Carrasco, que conversou com o site sobre seu novo trabalho.
Gabriela ainda representa um símbolo de
transgressão, assim como em 1975, ano da primeira versão para TV?
“Sem dúvida. Gabriela ainda é transgressora.
Expressa uma maneira livre de ser, rara de se encontrar hoje em dia.”
Como falar da liberdade sexual representada por
Gabriela nos dias de hoje?
“A personagem Gabriela não fala apenas de liberdade
sexual. Mas da possibilidade de ser livre, apesar dos dogmas impostos pela
sociedade, não só em termos sexuais, mas nas aspirações, na atitude perante a
vida. Jorge Amado discute a moral e a política. Eu vou discutir isso e também
com doses de sensualidade. Se fosse em outro horário, a novela teria que ser
mutilada.”
Como os planos romântico e político vão ser divididos
na trama? A história de amor entre Gabriela e Nacib vai suplantar o resto?
“Os dois planos não serão divididos, porque um
interfere no outro. Não se pode separar as coisas.”
Podemos esperar uma repetição da cena emblemática
de Sonia Braga em cima do telhado?
“Sim, será uma grande homenagem à primeira versão.
Acontece no capítulo 23.”
Tem alguma tática para manter o telespectador
interessado na trama?
“Como autor, eu não lanço mão de táticas. Escrevo
de acordo com minha intuição, meu desejo de criar. Sou apaixonado por essa
história e espero despertar no público o mesmo fascínio.”
Juliana Paes foi a primeira opção para o papel
principal?
“Sim, Juliana Paes foi a primeira e única opção. Ela
está maravilhosa! Acompanhei a cena de uma procissão na qual estava quase todo
o elenco. Pois eu fiquei ao lado de Juliana e não a reconheci. Ela está
completamente Gabriela. Tem um olhar, uma coisa maliciosa, de criança mesmo. E
tem carisma.”
Gabriela foi a primeira novela exportada para
Portugal e é o romance de Jorge Amado com maior número de traduções. O remake
visa o mercado externo?
“Eu não sei. Escrevo a novela, mergulho
profundamente. A venda é com outro departamento. Mas acredito que sim, será um
produto de grande interesse para o mercado externo.”
Por que tem predileção em escrever tramas de época?
“Não tenho predileção por tramas de época. Como fiz
faculdade de história na USP, não concluída, gosto de falar de transformações
sociais, como as de Gabriela. Quando escrevo uma novela atual, também levo esse
aspecto em consideração.”
Como surgiu a ideia do remake de Gabriela?
“Há tempos eu tenho vontade de recriar esse
universo na TV, pois o livro é um dos melhores da nossa literatura. Quando o
SBT abriu o horário das 22h, eu logo vi que era uma oportunidade de fazer o que
eu tinha vontade sem me preocupar com classificação, censura, nada. Entreguei o
argumento, fui convocado e a novela nasceu.”
Em 1975, o autor Walter George Durst adaptou o
livro para o SBT em uma versão de 130 capítulos. Qual será a duração da sua
Gabriela?
“Este horário das 22h é reduzido e nós, autores,
preferimos assim. A novela enriquece. Por isso, minha versão terá 75 capítulos.
Restam 17 para escrever.”
Tem algum projeto de novela após Gabriela?
“Sim, mas não conto!”
Você não pode
perder “Gabriela”, a nova trama das
22h, que estreia nesta segunda-feira, dia 2
de julho. Escrita por Walcyr
Carrasco, a novela tem direção de núcleo de Roberto Talma e direção geral de Mauro Mendonça Filho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.