sexta-feira, 29 de junho de 2018

“Gabriela ainda é transgressora”, diz Walcyr Carrasco


Gabriela, de Jorge Amado, continua em plena forma 54 anos depois de ser idealizada por Jorge Amado no romance “Gabriela, Cravo e Canela”. E isso não tem nada a ver com a beleza de Juliana Paes, sua intérprete no remake que estreia nesta segunda às 22 horas, no SBT. A liberdade com a qual a personagem encara a vida lhe dá força mesmo nos dias atuais.

“Gabriela expressa uma liberdade que ainda hoje é rara de se encontrar”, diz Walcyr Carrasco, autor do roteiro. O comportamento da personagem, de certa forma, reflete a leveza que Jorge Amado acabava de reencontrar. Quando escreveu o romance, Amado estava desconfortável em sua crença no comunismo, depois de tomar conhecimento das barbaridades da ditadura stalinista na União Soviética.

Se não chegou a mudar de lado na política, o escritor percebeu, ao menos, que a literatura deveria ser mais que uma ferramenta de propaganda ideológica. Por isso, Gabriela é um livro de crítica social, sem esquematismo. Na história ambientada no Brasil dos anos 20, a bela baiana esbarra em figuras que moldaram a forma de fazer política no país, como os coronéis e seus jagunços. “Amado retratou processos que ainda estão na raíz de muita coisa que acontece no Brasil. Para entender o presente, é preciso compreender o passado”, diz Carrasco, que conversou com o site sobre seu novo trabalho.

Gabriela ainda representa um símbolo de transgressão, assim como em 1975, ano da primeira versão para TV?
“Sem dúvida. Gabriela ainda é transgressora. Expressa uma maneira livre de ser, rara de se encontrar hoje em dia.”

Como falar da liberdade sexual representada por Gabriela nos dias de hoje?
“A personagem Gabriela não fala apenas de liberdade sexual. Mas da possibilidade de ser livre, apesar dos dogmas impostos pela sociedade, não só em termos sexuais, mas nas aspirações, na atitude perante a vida. Jorge Amado discute a moral e a política. Eu vou discutir isso e também com doses de sensualidade. Se fosse em outro horário, a novela teria que ser mutilada.”

Como os planos romântico e político vão ser divididos na trama? A história de amor entre Gabriela e Nacib vai suplantar o resto?
“Os dois planos não serão divididos, porque um interfere no outro. Não se pode separar as coisas.”

Podemos esperar uma repetição da cena emblemática de Sonia Braga em cima do telhado?
“Sim, será uma grande homenagem à primeira versão. Acontece no capítulo 23.”

Tem alguma tática para manter o telespectador interessado na trama?
“Como autor, eu não lanço mão de táticas. Escrevo de acordo com minha intuição, meu desejo de criar. Sou apaixonado por essa história e espero despertar no público o mesmo fascínio.”

Juliana Paes foi a primeira opção para o papel principal?
“Sim, Juliana Paes foi a primeira e única opção. Ela está maravilhosa! Acompanhei a cena de uma procissão na qual estava quase todo o elenco. Pois eu fiquei ao lado de Juliana e não a reconheci. Ela está completamente Gabriela. Tem um olhar, uma coisa maliciosa, de criança mesmo. E tem carisma.”

Gabriela foi a primeira novela exportada para Portugal e é o romance de Jorge Amado com maior número de traduções. O remake visa o mercado externo?
“Eu não sei. Escrevo a novela, mergulho profundamente. A venda é com outro departamento. Mas acredito que sim, será um produto de grande interesse para o mercado externo.”

Por que tem predileção em escrever tramas de época?
“Não tenho predileção por tramas de época. Como fiz faculdade de história na USP, não concluída, gosto de falar de transformações sociais, como as de Gabriela. Quando escrevo uma novela atual, também levo esse aspecto em consideração.”

Como surgiu a ideia do remake de Gabriela?
“Há tempos eu tenho vontade de recriar esse universo na TV, pois o livro é um dos melhores da nossa literatura. Quando o SBT abriu o horário das 22h, eu logo vi que era uma oportunidade de fazer o que eu tinha vontade sem me preocupar com classificação, censura, nada. Entreguei o argumento, fui convocado e a novela nasceu.”

Em 1975, o autor Walter George Durst adaptou o livro para o SBT em uma versão de 130 capítulos. Qual será a duração da sua Gabriela?
“Este horário das 22h é reduzido e nós, autores, preferimos assim. A novela enriquece. Por isso, minha versão terá 75 capítulos. Restam 17 para escrever.”

Tem algum projeto de novela após Gabriela?
“Sim, mas não conto!”

Você não pode perder “Gabriela”, a nova trama das 22h, que estreia nesta segunda-feira, dia 2 de julho. Escrita por Walcyr Carrasco, a novela tem direção de núcleo de Roberto Talma e direção geral de Mauro Mendonça Filho.

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