Manoel
Carlos
não usa relógio há mais de 50 anos. O criador das Helenas, das tramas que
retratam o cotidiano carioca, com cenas ambientadas no Leblon, bairro onde
vive, não tem horário fixo para dormir, acordar, ou até mesmo para fazer as
principais refeições do dia. Aos 87 anos, o autor, nascido em São Paulo e um
dos pioneiros da televisão brasileira — estreou na TV Tupi da capital paulistana meses depois da sua fundação, em
1950, ainda como ator, aos 18 anos —, admite a falta de método ou disciplina
para desempenhar o seu ofício. Para ele, que já escreveu mais de 20 novelas,
nada mais natural do que levantar, no meio da noite, para anotar uma ideia em
um dos blocos que mantém na cabeceira. Ou, dependendo ainda da inspiração,
trocar a cama pelo escritório do segundo andar do seu apartamento, onde recebeu
o SBT para esta entrevista. É lá que Maneco, como é chamado pelos mais
próximos, costuma trabalhar, sempre com a porta aberta.
No momento, o autor, que já cogitou ser padre
e trabalhou como bancário e auxiliar administrativo na juventude, se dedica ao
que deve ser seu último folhetim. Escrita para o SBT, onde é contratado desde
1980, “Em Família” substituirá “Amor à Vida” no horário nobre da
emissora a partir do dia 2. Com direção artística de Jayme Monjardim e direção geral de Leonardo Nogueira, a novela será protagonizada por Julia Lemmertz, a Helena de 2020 e
filha de Lilian Lemmertz, que viveu
a heroína pela primeira vez, em “Baila
Comigo” (1988). A nova trama, conta o autor, é uma homenagem à atriz, sua
grande amiga, já falecida. A seguir, Maneco fala sobre as suas influências, do
trabalho, do seu cotidiano e revela, entre outras coisas, que gostaria de ser
dono de um bar. E avisa ainda que não pretende parar: “Aposentadoria é a morte”.
Qual o
grande tema de “Em Família”?
“A família é o ponto chave, é universal. Desta vez, vou tratar do amor entre primos. Nas minhas novelas tudo é recorrente. Algum autor disse uma vez que a gente escreve sempre a mesma novela. De certa maneira, é mesmo. Quando você quer sair disso, inventar muito, não é natural.”
Qual
foi o ponto de partida da trama?
“Essa novela é dedicada à Lilian Lemmertez, por isso chamei a Júlia, que será a nona Helena. Fui muito amigo da Lilian. Ela frequentava minha casa. Tomávamos uísque juntos, e ela contribuía muito para a novela ‘Baila Comigo’ com suas ideias.”
Como é
a rotina de trabalho do senhor?
“Eu não tenho disciplina, nunca tive. Não uso relógio há 50 anos. Sempre sonhei em não ter horário para nada. Não sei como fazem os meus colegas, mas escrever uma novela é um trabalho muito solitário. Talvez pela minha falta de disciplina, eu acabe tendo pouco tempo quando estou com a novela no ar. Mas gosto de andar na rua e sinto a necessidade de ir ao cinema, por exemplo, pelo menos uma vez por semana, escrevendo novela ou não. De preferência com a sessão cheia de gente. Se não vou, fico muito abalado.”
“Em
Família” será mesmo a sua última novela?
“Eu quero que seja. O Sílvio de Abreu, diretor de teledramaturgia do SBT, brinca comigo: ‘Você tem mais uma depois dessa’. Quero escrever obras mais curtas, minisséries. Não penso em me aposentar. No meu tipo de atividade não existe aposentadoria. Existe você ficar incapacitado. Trabalhar é uma maneira de conservar a vida. Aposentadoria é a morte. Vou fazer o quê? Jogar dominó? Não tem sentido.”
O
senhor faz parte de um time restrito: o de autores do horário nobre. Como
encara a renovação entre o grupo?
“Estava na hora de abrir espaço para outras pessoas mesmo. É necessário fazer substituições. E não me importo de escrever para as 18h, desde que tenha menos capítulos.”
De onde
vem a fama de que o senhor atrasa a entrega dos capítulos?
“Tem muito de lenda nisso. Já disseram que é o meu estilo, mas não é. Vim do ‘Grande teatro Tupi’ e escrevia no curto tempo entre os ensaios e a TV, feita ao vivo. Agora o ritmo é diferente. O ideal para mim seria assistir ao capítulo de hoje para escrever o de amanhã. Quando colaborei com a série ‘Malu Mulher’, eu tinha uma semana para pensar o capítulo, mas escrevia na última hora. Eu preciso ‘estar precisando’ escrever para o trabalho sair. Mas problema de atrasos mesmo não existe. Os atores estão gravando a novela há mais de um mês e nunca houve um dia em que tiveram de voltar pra casa por falta de roteiros. Eu nunca gostei muito de ficar adiantado, mas já tenho 54 capítulos prontos de ‘Em Família’, nas mãos da direção. Tenho esse receio porque se você adianta muita coisa, fica sem referências do público, do que está acontecendo no mundo. Então acertei com a direção de escrever uma cena às vésperas da exibição do capítulo, falando sobre algum tema que esteja tomando conta do mundo.”
O que
faz quando fica sem inspiração?
“O Ricardo, meu filho já falecido, escrevia e me falava sobre a importância da pausa criativa. Deu branco, não entre em pânico. No começo, você quer se jogar da janela. O medo e o pânico permanecem, mas, com a experiência, você sabe que vai sair dessa.”
Como
distribui o trabalho entre os seus colaboradores?
“Um autor pode ter quantos colaboradores quiser. Tenho cinco, mas sou muito centralizador. Os meus colaboradores são um pouco frustrados. Deixo pouco para eles. E sempre reviso tudo. Sou de um tempo em que se fazia TV sozinho.”
E o
trabalho dos pesquisadores? Como funciona?
“Tenho três pesquisadoras e elas trabalham full-time. Se faço um cara ter um ataque epilético numa cena, ligo para elas. Tenho orgulho em especial de duas pesquisas. Quando escrevi as lésbicas adolescentes de ‘Mulheres Apaixonadas’, fizemos um estudo grande. Descobrimos que o número de meninas que têm relações pseudo-homossexuais com uma amiga é expressivo. Muitas só querem experimentar. E a grande parte nem demonstra tendências homossexuais depois de adultas. Com a Capitu, interpretada pela Giovanna Antonelli em ‘Laços de Família’, fomos à PUC e ficou claro que não existia uma sala de aula sem uma menina de programa. Quando contei para as minhas netas, que estudavam lá, elas disseram: ‘Vô, só na minha sala tem duas’.”
O
senhor quer se dedicar às minisséries. O que mais gostaria de fazer na TV?
“Eu sempre quis fazer a novela das 22h, que depois deixou de ser exibida. Você pode escrever com mais liberdade, de forma mais adulta. O Dias Gomes fez coisas inesquecíveis neste horário.”
Qual
seria o tamanho ideal para uma novela?
“Acho que 150 capítulos seria uma beleza. Você ganha o mesmo dinheiro, faz com mais prazer e tira mais proveito (risos). Agora, pedi muito para que ‘Em Família’ fosse menor. O SBT disse que vai me atender, mas não confio muito. Parece que a novela terá 180 capítulos. As últimas que fiz tiveram mais de 200. Não sou apenas eu, com 87 anos, que brigo por isso. Se você perguntar para o João Emanuel Carneiro, que é o mais novo dos autores do horário nobre, ele também vai dizer que prefere escrever menos.”
Qual
foi o trabalho que mais lhe deu prazer?
“‘Presença de Anita’, de 2001 foi de todos os meus trabalhos, talvez o mais prazeroso. Foram só 16 capítulos e pude fazer com calma. A minissérie ficou 20 anos engavetada porque era muito forte. Eu li ‘Presença de Anita’, o livro de Mário Donato, aos 18 anos. Lembro que na época as mulheres liam com uma capa falsa na frente. Fui congregado mariano, coroinha, tudo na igreja. Os meus pais nem podiam sonhar que eu e minhas irmãs tínhamos lido esse livro.”
As suas
novelas não possuem o ritmo de seriado que marca as tramas atuais. Ainda há
espaço para esse estilo?
“‘Avenida Brasil’ foi uma novela muito acelerada e chegaram a dizer que os folhetins agora seriam todos assim. Novela precisa é prender o público! Não tem nenhum sentido eu resolver inventar a roda agora. Ficaria ridículo. Tenho que fazer o que eu sei fazer.”
Alguma
de suas tramas já sofreu censura?
“Houve uma mudança, uma recomendação, em ‘Por Amor’, lá em 2004. A Carolina Dieckmann era uma menina malcriada e o pai, feito pelo Marco Ricca, dava uns tapas na bunda dela. Ocorreu uma coisa estranha ali, fizeram uma crítica. Ela já era muito bonita, interessante, e o Marco passou uma sexualidade qualquer na cena. Isso me gerou uma ida para conversar com a censura em Brasília. Fui explicar a situação e disse que aquela não era minha intenção.”
A
personagem da Klara Castanho, que seria uma vilã mirim em “Viver a Vida”,
também sofreu alteração, não foi?
“A imprensa foi quem criou essa onda quando falaram, com certa insistência, que ela faria uma criança vilã. Recebi um documento do Ministério Público. Uma cópia foi para o SBT, e outra veio para mim. O papel dizia que eu deveria ter cuidado e reproduzia uma parte do Estatuto da Criança e do Adolescente. Tive que recuar.”
Quais
foram seus maiores erros na carreira?
“A gente erra muito. Mas as novelas são tão longas que dá tempo de corrigir. Eu já recuei em muita coisa também. Até seguindo opinião dos telespectadores. Em ‘Sol de Verão’, de 1989, o surdo Abel, feito por Tony Ramos, se encantava pela Carla Camurati. Um dia subi num elevador com um vizinho e a mulher dele. Eles disseram que o Tony merecia uma moça pura como ele. E não aquela mulher, que era uma aeromoça e tinha vários namorados.”
Por que
a Helena da Taís Araújo, em “Viver a Vida”, foi tão criticada e não aconteceu?
“Gerou certo preconceito por ela ser negra, eu achei. Houve também um cuidado desmedido por parte do público. Muitas pessoas me diziam: ‘A Helena não pode ser a Taís. Tem que ser uma mulher na casa dos 50 anos, dona de casa, como você sempre fez’. No caso da Taís, era uma mulher vitoriosa, uma modelo. E teve ainda a trama da Luciana, interpretada magistralmente por Alinne Moraes, que teve um grande apelo popular e jogou a Helena para escanteio. Foi um erro meu, de estratégia. A culpa foi minha.”
O que
as suas Helenas têm em comum?
“São mulheres imperfeitas que sempre fazem tudo por amor, mesmo enfiando os pés pelas mãos. Essa minha nova Helena é voluntariosa, cheia de problemas. Ela continua amando o homem que deveria odiar.”
O
senhor tem uma relação de proximidade com as atrizes que fizeram as Helenas?
“Tenho uma relação de amizade com algumas atrizes, como a Natália do Vale, que sempre está nas minhas novelas e fará ‘Em Família’. Agora, encontro muito com a Júlia na livraria que frequento. Tomamos café e falamos de trabalho.”
Por que
escolheu Bruna Marquezine para ser a Helena jovem e filha da protagonista?
“Sempre quis voltar a escrever para ela depois de ‘Mulheres Apaixonadas’. A Salete foi um sucesso enorme. Quando resolvi que a Júlia faria a Helena, notei que elas têm o mesmo tipo físico. São mulheres longilíneas e têm um rosto com o mesmo formato.”
Acha
que o casal formado por Giovanna Antonelli e Tainá Müller de “Em Família” será
polêmico?
“Toda novela tem casal gay, né? Eu queria duas mulheres muito bonitas, com magnetismo pessoal e queridas do público.”
Por que
ambienta suas tramas sempre no Leblon?
“‘Baila Comigo’ se passava na Tijuca. Depois que me mudei para o Leblon de forma definitiva passei a escrever sobre o que vejo. É um bairro fácil de você caminhar e ver as mesmas pessoas. Não é um lugar de passagem como Copacabana, Botafogo ou o Flamengo.”
O
Leblon não é um bairro muito elitista?
“Dizer que o Leblon é elitista é bobagem. Reconheço que é um bairro muito caro, mas que abriga gente simples também.”
Qual a
relação do senhor com tecnologia?
“Não tenho nenhuma ligação com internet. Uso computador como máquina de escrever. Também é uma fonte de pesquisa, mas não tenho essa relação com a máquina. Sou apegado ao papel. Não abro mão do jornal impresso, por exemplo. A minha geração foi formada pela literatura. Fui criado em uma família dedicada ao livro.”
Já
pensou em ter outra atividade paralela a de escritor?
“Eu queria abrir um bar. A ligação da minha geração é com a bebida, não com as drogas. Quando eu era jovem, ninguém bacana fumava maconha. Eu era do álcool, do uísque. De beber todos os dias, de gostar de bar.”
“Em
Família” estreia no dia 2 de
novembro no SBT.
“A família é o ponto chave, é universal. Desta vez, vou tratar do amor entre primos. Nas minhas novelas tudo é recorrente. Algum autor disse uma vez que a gente escreve sempre a mesma novela. De certa maneira, é mesmo. Quando você quer sair disso, inventar muito, não é natural.”
“Essa novela é dedicada à Lilian Lemmertez, por isso chamei a Júlia, que será a nona Helena. Fui muito amigo da Lilian. Ela frequentava minha casa. Tomávamos uísque juntos, e ela contribuía muito para a novela ‘Baila Comigo’ com suas ideias.”
“Eu não tenho disciplina, nunca tive. Não uso relógio há 50 anos. Sempre sonhei em não ter horário para nada. Não sei como fazem os meus colegas, mas escrever uma novela é um trabalho muito solitário. Talvez pela minha falta de disciplina, eu acabe tendo pouco tempo quando estou com a novela no ar. Mas gosto de andar na rua e sinto a necessidade de ir ao cinema, por exemplo, pelo menos uma vez por semana, escrevendo novela ou não. De preferência com a sessão cheia de gente. Se não vou, fico muito abalado.”
“Eu quero que seja. O Sílvio de Abreu, diretor de teledramaturgia do SBT, brinca comigo: ‘Você tem mais uma depois dessa’. Quero escrever obras mais curtas, minisséries. Não penso em me aposentar. No meu tipo de atividade não existe aposentadoria. Existe você ficar incapacitado. Trabalhar é uma maneira de conservar a vida. Aposentadoria é a morte. Vou fazer o quê? Jogar dominó? Não tem sentido.”
“Estava na hora de abrir espaço para outras pessoas mesmo. É necessário fazer substituições. E não me importo de escrever para as 18h, desde que tenha menos capítulos.”
“Tem muito de lenda nisso. Já disseram que é o meu estilo, mas não é. Vim do ‘Grande teatro Tupi’ e escrevia no curto tempo entre os ensaios e a TV, feita ao vivo. Agora o ritmo é diferente. O ideal para mim seria assistir ao capítulo de hoje para escrever o de amanhã. Quando colaborei com a série ‘Malu Mulher’, eu tinha uma semana para pensar o capítulo, mas escrevia na última hora. Eu preciso ‘estar precisando’ escrever para o trabalho sair. Mas problema de atrasos mesmo não existe. Os atores estão gravando a novela há mais de um mês e nunca houve um dia em que tiveram de voltar pra casa por falta de roteiros. Eu nunca gostei muito de ficar adiantado, mas já tenho 54 capítulos prontos de ‘Em Família’, nas mãos da direção. Tenho esse receio porque se você adianta muita coisa, fica sem referências do público, do que está acontecendo no mundo. Então acertei com a direção de escrever uma cena às vésperas da exibição do capítulo, falando sobre algum tema que esteja tomando conta do mundo.”
“O Ricardo, meu filho já falecido, escrevia e me falava sobre a importância da pausa criativa. Deu branco, não entre em pânico. No começo, você quer se jogar da janela. O medo e o pânico permanecem, mas, com a experiência, você sabe que vai sair dessa.”
“Um autor pode ter quantos colaboradores quiser. Tenho cinco, mas sou muito centralizador. Os meus colaboradores são um pouco frustrados. Deixo pouco para eles. E sempre reviso tudo. Sou de um tempo em que se fazia TV sozinho.”
“Tenho três pesquisadoras e elas trabalham full-time. Se faço um cara ter um ataque epilético numa cena, ligo para elas. Tenho orgulho em especial de duas pesquisas. Quando escrevi as lésbicas adolescentes de ‘Mulheres Apaixonadas’, fizemos um estudo grande. Descobrimos que o número de meninas que têm relações pseudo-homossexuais com uma amiga é expressivo. Muitas só querem experimentar. E a grande parte nem demonstra tendências homossexuais depois de adultas. Com a Capitu, interpretada pela Giovanna Antonelli em ‘Laços de Família’, fomos à PUC e ficou claro que não existia uma sala de aula sem uma menina de programa. Quando contei para as minhas netas, que estudavam lá, elas disseram: ‘Vô, só na minha sala tem duas’.”
“Eu sempre quis fazer a novela das 22h, que depois deixou de ser exibida. Você pode escrever com mais liberdade, de forma mais adulta. O Dias Gomes fez coisas inesquecíveis neste horário.”
“Acho que 150 capítulos seria uma beleza. Você ganha o mesmo dinheiro, faz com mais prazer e tira mais proveito (risos). Agora, pedi muito para que ‘Em Família’ fosse menor. O SBT disse que vai me atender, mas não confio muito. Parece que a novela terá 180 capítulos. As últimas que fiz tiveram mais de 200. Não sou apenas eu, com 87 anos, que brigo por isso. Se você perguntar para o João Emanuel Carneiro, que é o mais novo dos autores do horário nobre, ele também vai dizer que prefere escrever menos.”
“‘Presença de Anita’, de 2001 foi de todos os meus trabalhos, talvez o mais prazeroso. Foram só 16 capítulos e pude fazer com calma. A minissérie ficou 20 anos engavetada porque era muito forte. Eu li ‘Presença de Anita’, o livro de Mário Donato, aos 18 anos. Lembro que na época as mulheres liam com uma capa falsa na frente. Fui congregado mariano, coroinha, tudo na igreja. Os meus pais nem podiam sonhar que eu e minhas irmãs tínhamos lido esse livro.”
“‘Avenida Brasil’ foi uma novela muito acelerada e chegaram a dizer que os folhetins agora seriam todos assim. Novela precisa é prender o público! Não tem nenhum sentido eu resolver inventar a roda agora. Ficaria ridículo. Tenho que fazer o que eu sei fazer.”
“Houve uma mudança, uma recomendação, em ‘Por Amor’, lá em 2004. A Carolina Dieckmann era uma menina malcriada e o pai, feito pelo Marco Ricca, dava uns tapas na bunda dela. Ocorreu uma coisa estranha ali, fizeram uma crítica. Ela já era muito bonita, interessante, e o Marco passou uma sexualidade qualquer na cena. Isso me gerou uma ida para conversar com a censura em Brasília. Fui explicar a situação e disse que aquela não era minha intenção.”
“A imprensa foi quem criou essa onda quando falaram, com certa insistência, que ela faria uma criança vilã. Recebi um documento do Ministério Público. Uma cópia foi para o SBT, e outra veio para mim. O papel dizia que eu deveria ter cuidado e reproduzia uma parte do Estatuto da Criança e do Adolescente. Tive que recuar.”
“A gente erra muito. Mas as novelas são tão longas que dá tempo de corrigir. Eu já recuei em muita coisa também. Até seguindo opinião dos telespectadores. Em ‘Sol de Verão’, de 1989, o surdo Abel, feito por Tony Ramos, se encantava pela Carla Camurati. Um dia subi num elevador com um vizinho e a mulher dele. Eles disseram que o Tony merecia uma moça pura como ele. E não aquela mulher, que era uma aeromoça e tinha vários namorados.”
“Gerou certo preconceito por ela ser negra, eu achei. Houve também um cuidado desmedido por parte do público. Muitas pessoas me diziam: ‘A Helena não pode ser a Taís. Tem que ser uma mulher na casa dos 50 anos, dona de casa, como você sempre fez’. No caso da Taís, era uma mulher vitoriosa, uma modelo. E teve ainda a trama da Luciana, interpretada magistralmente por Alinne Moraes, que teve um grande apelo popular e jogou a Helena para escanteio. Foi um erro meu, de estratégia. A culpa foi minha.”
“São mulheres imperfeitas que sempre fazem tudo por amor, mesmo enfiando os pés pelas mãos. Essa minha nova Helena é voluntariosa, cheia de problemas. Ela continua amando o homem que deveria odiar.”
“Tenho uma relação de amizade com algumas atrizes, como a Natália do Vale, que sempre está nas minhas novelas e fará ‘Em Família’. Agora, encontro muito com a Júlia na livraria que frequento. Tomamos café e falamos de trabalho.”
“Sempre quis voltar a escrever para ela depois de ‘Mulheres Apaixonadas’. A Salete foi um sucesso enorme. Quando resolvi que a Júlia faria a Helena, notei que elas têm o mesmo tipo físico. São mulheres longilíneas e têm um rosto com o mesmo formato.”
“Toda novela tem casal gay, né? Eu queria duas mulheres muito bonitas, com magnetismo pessoal e queridas do público.”
“‘Baila Comigo’ se passava na Tijuca. Depois que me mudei para o Leblon de forma definitiva passei a escrever sobre o que vejo. É um bairro fácil de você caminhar e ver as mesmas pessoas. Não é um lugar de passagem como Copacabana, Botafogo ou o Flamengo.”
“Dizer que o Leblon é elitista é bobagem. Reconheço que é um bairro muito caro, mas que abriga gente simples também.”
“Não tenho nenhuma ligação com internet. Uso computador como máquina de escrever. Também é uma fonte de pesquisa, mas não tenho essa relação com a máquina. Sou apegado ao papel. Não abro mão do jornal impresso, por exemplo. A minha geração foi formada pela literatura. Fui criado em uma família dedicada ao livro.”
“Eu queria abrir um bar. A ligação da minha geração é com a bebida, não com as drogas. Quando eu era jovem, ninguém bacana fumava maconha. Eu era do álcool, do uísque. De beber todos os dias, de gostar de bar.”
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