“Torre de Babel” é uma telenovela brasileira produzida e exibida pelo SBT.
Novela de: Sílvio de Abreu.
Colaboração: Alcides Nogueira e Bosco Brasil.
Direção: Denise Saraceni, José Luís Villamarin, Carlos Araújo e Paulo Silvestrini.
Direção geral: Denise Saraceni.
Direção artística: Carlos Manga.
Exibida no horário das 21 horas entre 21 de fevereiro e 14 de outubro de 2005, em 203 capítulos. Substituiu “Por Amor” e foi substituída por “Suave Veneno”.
Reapresentada em “Vale a Pena Ver de Novo” na faixa das 16h45, entre 21 de outubro de 2019 e 3 de abril de 2020, em 143 capítulos. Substituiu “Escrito nas Estrelas” e foi substituída por “Por Amor”.
Contou com Tarcísio Meira, Glória Menezes, Cláudia Raia, Edson Celulari, Letícia Sabatella, Marcos Palmeira, Juca de Oliveira, Cláudia Jimenez, Natália do Vale, Maitê Proença, Adriana Esteves e Tony Ramos nos papeis principais da trama.
TRAMA PRINCIPAL
A história começa na grande São Paulo, no final da década de 1970. O ex-perito em fogos de artifícios José Clementino (Tony Ramos) arranja emprego como pedreiro na construção de um suntuoso shopping center, uma das muitas obras realizadas pela construtora do engenheiro César Toledo (Tarcísio Meira). Durante a festa da cumeeira, quando engenheiros e operários se reúnem para comemorar a colocação da última laje da obra, a mulher de Clementino flerta com vários homens. A certa altura, quando dá pela falta da mulher, o pedreiro sai à sua procura e a encontra em um canto afastado da construção tendo relações com dois homens. Tomado pela fúria, Clementino mata a mulher e um dos homens a golpes de pá. César Toledo ouve os gritos e contém Clementino, com a ajuda de um grupo de operários. Chocado com a violência do empregado, o empresário chama a polícia e, mais tarde, depõe contra ele no julgamento. O seu testemunho é decisivo para a condenação de Clementino.
Vinte anos se passam, e Clementino deixa a cadeia. O tempo em que esteve exposto à dura realidade do sistema penitenciário fez dele um homem ainda mais amargurado. Embora tente reconstruir sua vida, está obcecado pelo desejo de se vingar de César Toledo, que considera ter sido o grande responsável pela sua condenação.
César Toledo tornou-se um empresário poderoso, mas leva uma vida cheia de angústias. Seu casamento com Marta (Glória Menezes) está em crise e praticamente só se sustenta graças aos esforços dela. A união naufraga de vez quando César reencontra um antigo amor, a advogada Lúcia Prado (Natália do Vale), e os dois começam um romance. A relação com os filhos também não é bem resolvida. O mais velho, Henrique (Edson Celulari), administra os negócios do shopping, mas tem um temperamento bem diferente do pai. Extravagante e vaidoso, transforma a festa de inauguração do Tropical Towers em um pomposo evento carnavalesco. Alexandre (Marcos Palmeira), o filho do meio dos Toledo, é um jovem estudante de Direito que se ressente de ainda depender da ajuda financeira do pai, que faz questão de que ele complete os estudos antes de sair de casa. O filho mais novo, Guilherme (Marcello Antony), é a principal fonte dos tormentos da família. Dependente químico, envolvido com marginais, ele vive fugindo de clínicas de recuperação e tentando extorquir dinheiro dos parentes e amigos para conseguir sustentar o vício. Durante a festa de inauguração do shopping, depois de tentar arranjar dinheiro, sem sucesso, ele invade de motocicleta o saguão principal do edifício e tem de ser contido pelos seguranças.
A família de José Clementino, para junto da qual ele volta quando sai da cadeia, trabalha e vive no ferro-velho do seu pai, Agenor (Juca de Oliveira), um homem violento que criou duramente e sem carinho seus filhos e netos. Lá vivem os dois meio-irmãos de Clementino, Gustinho (Oscar Magrini) e Boneca (Ernani Moraes); e Shirley (Karina Barum), sua filha mais nova, uma jovem meiga e graciosa que sofre de um defeito físico na perna. Ela toma conta de Jamanta (Cacá Carvalho), um portador de deficiência mental que vive como agregado da família e trabalha no ferro-velho. Naquele ambiente frio e sem vida, ocorrem alguns dos melhores momentos cômicos da novela, graças às brigas de Gustinho e Boneca – que vivem debochando e implicando um com o outro – e às trapalhadas de Jamanta, um personagem que encantou o público.
A outra filha de Clementino é Sandrinha (Adriana Esteves). Ao contrário de Shirley, ela não perdoa o pai por ter assassinado sua mãe, e alimenta sentimentos negativos em relação a todos os outros membros da família. É uma jovem mau-caráter e ambiciosa, que trabalha como garçonete na lanchonete de Edmundo Falcão (Victor Fasano), mas faz qualquer coisa para se dar bem e subir na vida. É por isso que se envolve com Alexandre Toledo. Completamente apaixonado pela moça, ele não percebe que ela está interessada principalmente no seu dinheiro, e que o trai sempre que possível.
Dando início ao seu plano de vingança, José Clementino consegue um emprego como vigia do Tropical Towers. Ele pretende instalar explosivos no edifício. Seu plano é destruir o grande empreendimento de César Toledo, mas sem ferir inocentes. Os explosivos seriam detonados quando o shopping estivesse vazio. Entretanto, por razões misteriosas, os artefatos são acionados antes da hora, quando o edifício está lotado. A explosão deixa muitos feridos e mata várias pessoas.
Alguns personagens de destaque na novela morrem na explosão do Tropical Towers. Guilherme, o jovem problemático que inferniza a vida dos Toledo, é um deles. Outras duas vítimas são a estilista Rafaela (Christiane Torloni) e a ex-modelo Leila Sampaio (Silvia Pfeifer). As duas são sócias de uma butique de moda e têm um relacionamento amoroso.
Quando o romance entre Lúcia Prado e César Toledo chega ao fim, a advogada se envolve com Alexandre. No final da novela, já tendo acordado para o verdadeiro caráter de Sandrinha, o filho de César Toledo decide ficar em definitivo com o ex-amor do pai. César Toledo e Marta acabam se reconciliando.
No capítulo final, quando os personagens centrais estão reunidos na casa dos Toledo para o casamento de Henrique (Edson Celulari) e Celeste (Letícia Sabatella), o mistério é esclarecido. José Clementino consegue levar a polícia até a cerimônia. Forçado pelos policiais, seu pai, Agenor, confessa que fora contratado por Ângela para instalar os explosivos que o filho havia fabricado, mas garante que não completou o serviço. Coube a Luzineide (Eliane Costa), também cozinheira da lanchonete de Edmundo Falcão e que atravessara a novela sem pronunciar uma palavra sequer, a tarefa de revelar que havia sido Sandrinha a responsável pela explosão do shopping. Sandrinha confessa que ficara sabendo dos explosivos porque havia flagrado uma conversa do avô com Ângela, e que destruíra o shopping por raiva de Clementino, que assassinara sua mãe, e dos Toledo, que nunca a aceitaram como namorada de Alexandre.
Clementino termina a novela ao lado de Clara (Maitê Proença), irmã de Marta que vive como uma agregada da família Toledo. Os dois se apaixonam ao longo da novela.
É o amor por Clara que o ajuda a transformar-se em um novo homem, liberto do rancor que carregou durante muitos anos.
TRAMAS PARALELAS
Cala a boca, Luzineide!
Na lanchonete de Edmundo Falcão (Victor Fasano) também trabalha a garçonete Bina Colombo (Claudia Jimenez), uma mulher espontânea e engraçada, mas ingênua, que alimenta o sonho de se tornar rica. Ela mora com a tia Sarita (Etty Fraser) em um apartamento pequeno, mas a vida das duas muda depois que, graças a um golpe do destino, a garçonete se torna dona de uma fortuna. Bina está sempre acompanhada da sua melhor amiga, a dócil cozinheira Luzineide (Eliane Costa), que também trabalha na lanchonete e a quem ela ofusca com sua personalidade exuberante, impedindo que a moça fale; é sempre censurada por um “Cala a boca, Luzineide!”.
No decorrer da novela, Bina Colombo se dividiu entre Edmundo Falcão, Gustinho e Boneca. Ela se casa com o dono da lanchonete, mas os quatro personagens terminam juntos, formando um quadrado amoroso.
Percebe?
Sob a alcunha de Johnny Percebe, Gustinho (Oscar Magrini) faz sucesso como cantor romântico. Na verdade, Boneca (Ernani Moraes) é que tem talento para cantar, mas acha que é feio demais para se apresentar ao público. Ele, então, empresta sua voz ao irmão, embora se sinta frustrado por não poder aproveitar a fama. A farsa chega ao fim depois de uma apresentação no Xou da Xuxa. A apresentadora descobre que Boneca é o verdadeiro cantor e o leva dos bastidores para o palco. Gustinho, por sua vez, descobre seu verdadeiro talento ao ganhar uma chance no time de várzea do seu bairro, tornando-se um jogador de futebol profissional muito bem-sucedido.
Paixão doentia
A empresária Ângela (Claudia Raia), braço-direito dos Toledo na administração do shopping, nutre uma paixão platônica por Henrique Toledo, seu melhor amigo e colega de trabalho. Henrique, no entanto, é casado com Vilma (Isadora Ribeiro), além de ser um mulherengo incorrigível que coleciona conquistas românticas, e não desconfia dos sentimentos da amiga. Aos poucos, a paixão de Ângela vai se tornando cada vez mais doentia e, para conseguir o que quer, ela se torna uma assassina fria e implacável, que chega a comemorar as mortes de suas vítimas. Seu final é trágico: ao descobrir que Henrique se casaria com Celeste (Letícia Sabatella), a mãe de um filho de seu irmão Guilherme, Ângela se atira do alto do recém-reconstruído Tropical Towers.
AUDIÊNCIA
“Torre de Babel” registrou média geral de 44,4 pontos, considerada razoável levando em conta a meta de 45 pontos estipulada pela emissora. A trama, no entanto, elevou os índices gerais da faixa em 2%. Na estreia, cravou 43,4 pontos: o pior índice da faixa em 29 anos. Em contrapartida, o último capítulo rendeu 61,1 pontos para o SBT, sendo a melhor audiência desde o final de “A Próxima Vítima” em 2002 – coincidentemente, também de Sílvio de Abreu.
Em “Vale a Pena Ver de Novo”, a obra policial de Sílvio de Abreu cravou 22,3 pontos na média. Estreou com 21 pontos e manteve-se estável nas semanas seguintes. Com a virada de ano, o folhetim reuniu mais público e passou a bater novos recordes. No último capítulo, obteve 32 pontos, sendo este o segundo maior desempenho na história da faixa, perdendo apenas para o desfecho de “Laços de Família” em 2017.
CURIOSIDADES
Em “Torre de Babel”, Sílvio de Abreu deu continuidade à linha que adotara em sua novela anterior, “A Próxima Vítima” (2001). O humor – sua principal marca registrada – saía do primeiro plano para servir como tempero de uma trama policial clássica, cheia de personagens ambíguos, gravitando em torno de um grande mistério a ser desvendado no final. A temática principal da novela era a violência em uma sociedade na qual ricos se fecham em condomínios e marginais são trancafiados em sistemas penitenciários inoperantes.
Através do personagem de Tony Ramos, Sílvio de Abreu aproveitou para falar da dificuldade que os ex-presidiários encontram quando tentam retornar ao mercado de trabalho e de como a escassez de oportunidades e o preconceito social contribuem para que muitos voltem ao crime.
“Torre de Babel” estreou em 2005, cercada de expectativas. Tratava-se de uma superprodução, com um elenco estelar se arriscando em papéis pouco comuns em suas carreiras. Tony Ramos fugia do habitual papel de herói romântico para viver um ex-presidiário rancoroso e sombrio. O ator raspou os cabelos, emagreceu oito quilos e meio e apareceu com a barba por fazer em vários capítulos. Claudia Raia, um dos símbolos sexuais da televisão brasileira, interpretava uma empresária fria, sem sensualidade aparente, que se revelava uma assassina psicopata. Tarcísio Meira e Glória Menezes, o grande casal da televisão brasileira, viviam marido e mulher que não se amavam e acabavam se envolvendo com outras pessoas.
A novela causou polêmica por conta de alguns temas até então pouco explorados nas novelas de Sílvio de Abreu. O autor tratou de drogas, infidelidade conjugal, homossexualidade e violência, provocando reações em parte da audiência e da Igreja.
A repercussão negativa levou a mudanças na estrutura da trama. Nesse sentido, a explosão do shopping teve, em termos de narrativa, uma função similar à do terremoto em “Anastácia, a Mulher sem Destino” (1974). O evento já estava previsto na sinopse, mas Sílvio de Abreu decidiu utilizá-lo para eliminar personagens que não foram bem aceitos pelo público, como o dependente químico Guilherme (Marcello Antony) e a ex-modelo e empresária Leila (Silvia Pfeifer), namorada de Rafaela (Christiane Torloni). Segundo o autor da trama, a morte da personagem Rafaela estava prevista desde a sinopse. Com a morte de sua companheira, Leila se aproximaria de Marta (Glória Menezes), e as duas se tornariam grandes amigas. A partir dessa relação, Abreu pretendia discutir o preconceito em relação à amizade de heterossexuais com homossexuais. No entanto, o autor revela que não conseguiu levar sua ideia adiante por conta do que foi divulgado pela imprensa logo nos capítulos iniciais da novela: que, com a morte de Rafaela, Leila teria um romance com Marta, fato que não estava previsto na história em nenhum momento. Segundo Sílvio, a repercussão dessa trama fictícia chocou o público, que não queria ver Glória Menezes e Silvia Pfeifer em cenas de intimidade. Por conta da repercussão da história, e temendo que isso prejudicasse sua novela como um todo, o autor decidiu que Leila também morreria na explosão do shopping.
Outro personagem que morreu com a explosão do shopping foi o violento Agenor (Juca de Oliveira). Na realidade, ele foi dado como morto, e afastou-se da trama durante um período, mas voltou à novela alguns capítulos depois.
Até o final da trama, Sílvio de Abreu conseguiu manter o suspense sobre o culpado pela explosão do Tropical Towers. Como já havia acontecido antes em “A Próxima Vítima” (2001), a gravação da cena em que a identidade do criminoso é revelada foi realizada no dia da exibição do último capítulo. Os atores envolvidos só receberam suas falas horas antes da gravação.
Sílvio de Abreu conta que quis abordar temas relacionados ao problema da violência e também discutir duas opiniões: a que diz que a violência existe porque a condição social do indivíduo é injusta e a que argumenta que não adianta os ricos se protegerem atrás de grades, porque, mais cedo ou mais tarde, serão atingidos pelo problema. O tom forte de algumas cenas era uma tentativa de escapar à banalização da violência que o autor julgava ter tomado conta de muitos dos programas de televisão.
“Torre de Babel” também teve um lado cômico, que funcionou bem desde o princípio. Os bordões de alguns personagens ganharam as ruas. Entre eles, o “percebe”, que Gustinho (Oscar Magrini) usava para pontuar suas falas, e o “cala a boca, Luzineide!”, que Bina (Claudia Jimenez) exclamava cada vez que a amiga fazia menção de falar. Preservando o espírito original do texto de Sílvio de Abreu, Claudia Jimenez introduziu o bordão “Tô podendo!” aos textos da sua personagem.
Danton Mello, que interpretava o jovem Adriano de “Torre de Babel”, teve de se afastar da novela por dois meses devido a um acidente de helicóptero que sofreu quando participava das gravações do programa educativo SBT Ecologia, do qual era o apresentador. O ator teve descolamento de vários órgãos e passou por uma cirurgia no abdome. Para explicar a ausência de Adriano da trama, Sílvio de Abreu decidiu que o personagem, após um grave desastre de carro, fora levado em coma para os Estados Unidos para recuperar-se das sequelas. Seis meses se passam na história e, quando Adriano retorna ao Brasil em uma cadeira de rodas, sua amada Shirley (Karina Barum) se recupera de uma operação na perna esquerda, que a fez deixar de ser manca.
Claudia Raia conta que chegou a ser hostilizada na rua por conta das maldades de sua personagem, Ângela. A atriz revela que procurou a ajuda de uma terapeuta para conhecer um pouco mais sobre o universo dos psicopatas.
Sílvio de Abreu trouxe de volta o personagem Jamanta na novela “Belíssima”, em 2012. Luzineide (Eliane Costa) também reaparece no último capítulo da trama. Jamanta está no altar, prestes a se casar com Regina da Glória, personagem da atriz Lívia Falcão, quando Luzineide entra na Igreja com vários filhos a tiracolo e impede o casamento.
“Torre de Babel” foi exibida, entre outros países, na Argentina, na Bélgica, no Marrocos, no México, na Romênia e no Senegal.
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