sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Saramandaia | Sergio Guizé sobre dedicação ao primeiro protagonista: “Acordo às 5h para pesquisar”


Em “Saramandaia”, nova novela das 22h, João Gibão é um homem misterioso que tem visões premonitórias e que vai dividir a cidade de Bole-Bole. Sob seu gibão de couro, ele esconde não só um par de asas, mas também a angústia de não conseguir se enquadrar em um mundo supostamente “normal”. Para viver seu primeiro protagonista na televisão, o ator Sergio Guizé mergulhou fundo em toda a complexidade que um personagem deste nível necessita: “Entro num lugar quase esquizofrênico para criar”.

Rosto pouco conhecido na TV, Guizé já atuou em algumas novelas e no seriado “Tapas e Beijos”, onde interpertou o travesti Lorraine. Mas foi no teatro e, mais recentemente, na série “Sessão de Terapia”, do canal GNT, que ele ganhou visibilidade. Assim como seu personagem em “Saramandaia”, o ator é enigmático e reservado e, talvez por isso mesmo, tenha sido escolhido a dedo pelo autor Ricardo Linhares e pela diretora artística Denise Saraceni.

Multifacetado – também é artista plástico e tem uma banda de rock/punk rock, a Tio Che, onde toca guitarra, canta e compõe –, Guizé encara com tranquilidade o desafio de dar vida a um personagem que ficou no imaginário de todos: “Sempre tive preparado para as coisas boas. Que venham mais protagonistas”.

O convite para “Saramandaia”
“O convite foi um dia depois do segundo episódio da série Sessão de Terapia, que eu participava. De manhã, a Denise Saraceni me ligou me convidando pra fazer o João Gibão, que era um dos protagonistas da novela. Depois ainda conversei com o Ricardo Linhares. Fiquei superfeliz”.

Preparando João Gibão
“Eu tenho lido muita coisa. Voltei a ler coisas do Gabriel García Márquez. Quando não tenho coisa para fazer, fico estudando. Hoje eu acordei cinco da manhã para pesquisar sobre Ernesto Sabato, que é um escritor argentino. Estou fazendo uma série de quadros em cima da obra dele, O Túnel, e acho que isso tem a ver com o Gibão também. Fiz também preparação de elenco com os amigos e colegas Chandelly Braz e Ferando Belo, que fazem minha namorada e meu irmão na trama. Houve um trabalho de preparação corporal que foi revelador, pois deu para ver todas as possibilidades deste personagem. E estou aprendendo com os outros atores. Acho que este é o maior presente. Está sendo uma escola pra mim.”

Sergio x Gibão
“Acho que ele tem em comum comigo o comprometimento e o amor aos animais. Sempre tive muitos bichos desde que era pequeno, já tive escorpião, pombo e, agora, vivo com o meu cachorro. De resto, estou muito aquém deste personagem. Ele é uma alegoria da virtude e da liberdade. O João Gibão é muito completo e tem virtudes que eu ainda não tenho, mas gostaria muito de ter. E estou aprendendo com ele.”

Um gavião como colega de cena
“Fiz um treinamento básico de falcoaria e estou completamente apaixonado pelo bicho. As pessoas têm muito medo deste animal, o estúdio fica em pânico quando ele está lá, as gravações são mais demoradas quando a gente trabalha junto, mas eu adoro. Estabelecemos uma confiança mútua e estamos nos dando muito bem. É um animal perigoso, tem que ter cuidado, mas é também incrível. É difícil eu falar porque eu realmente estou apaixonado por ele.”

Gibão e Marcina: um caso de amor
“Eu jamais fugiria de uma mulher para esconder um defeito que, na verdade, é uma virtude. As asas dele representam a liberdade, e eu teria muito orgulho isso. Essa é a grande questão: o João não coloca para fora o que sente. E ele tem medo de perder o grande amor da vida dele, caso se revele. Mas se ele não se revelar, também corre o risco de perdê-la. Eles não conseguem consumar o amor por estas questões de vida dele.”

Cenas picantes
“Talvez no teatro e no cinema eu já tenha feito cenas mais picantes. Não houve tensão nestas cenas. Eu e a Chandelly Braz nos conhecemos no trabalho e ela é uma grande parceira, incrível. Estou construindo o meu personagem a partir do que ela traz também do personagem dela. A gente sempre discute muito e quer fazer o melhor pelos dois personagens. Além disso, na hora, é uma coisa muito técnica porque tem que ficar muito bem feito. Acho que se tivesse mais emoção, se fossemos um casal de verdade, talvez a gente perdesse a mão de sentir a hora de fazer, a hora de falar, o que fazer. A gente virou parceiros e ainda bem que é ela.”

O peso do primeiro protagonista na TV
“Acho que a maior pressão é por ser um personagem maravilhoso, icônico e que foi feito por um mestre. Eu não penso muito no que vai acontecer depois. Eu estou vivendo muito o personagem. Entro num lugar quase esquizofrênico para criar o personagem – tipo acordar às cinco da manhã e pesquisar coisas, sempre pensando em um presente novo para o personagem.”

Teatro e TV
“A primeira vez que fiz televisão foi em 2008, na novela ‘Da Cor do Pecado’, também dirigida pela Denise, que me chamou pra fazer. Ia ser um vilão, mas, como era muito novo, me deram outro personagem. Acho que esta foi a minha quebra do teatro com a televisão. Mas eu nunca parei de fazer teatro, continua sendo o meu norte e a minha casa. Já fiz outras coisas também, como séries e cinema. Agora estou mais preparado por já ter passado por tantas outras coisas. Acho que tudo foi uma preparação para eu poder chegar aqui e agora.”

Arte pela arte
“Cada trabalho demanda um tipo de concentração e de preparação. E cada trabalho que faço é sempre um trabalho muito importante pra mim. Eu já deixei de fazer tanta coisa, até mesmo na televisão, por querer fazer outras coisas. Eu vou de cabeça mesmo, é vida ou morte. Pra mim, não existe esta diferença entre teatro e televisão. A arte é a arte. Tanto artes plásticas, interpretação, minha banda. O que acontece é que agora, neste momento, eu estou me dedicando muito, muito mesmo. Mas faço isso também com outros meios. Acabo que não vejo esta diferença. Estou me dedicando da mesma forma que me dedico ao teatro, que é aquilo que eu me sinto mais casa. A diferença mesmo é a maneira como você comunica a sua arte, mas elas também conversam entre si.”

Assédio
“Eu já estou sentindo que, às vezes, as pessoas parecem que querem fazer da minha vida pessoal uma novela. Já me perguntaram coisas absurdas que eu simplesmente não respondi. Acho que o mais importante mesmo é o trabalho. Mas acredito que não vai ter muito espaço para tanta exposição. Eu me isolei para fazer este trabalho e acho que, depois que acabar, também vou me isolar para não perder o meu foco. Eu até tenho um pouco de medo desta invasão de privacidade exagerada, mas eu não deixo isso chegar em mim. Em outras experiências que tive em televisão eu não deixei isso chegar tão perto e, mesmo agora sendo uma coisa bem maior, acho que vai ser assim também. Prefiro ficar fora desta coisa, acho que não pertenço a isso não.”

Saramandaia”, de autoria de Ricardo Linhares, é livremente inspirada na obra original de Dias Gomes, com direção artística de Denise Saraceni e direção geral de Denise Saraceni e Fabrício Mamberti. A estreia acontece no dia 7 de janeiro.

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