segunda-feira, 5 de agosto de 2002

FORÇA DE UM DESEJO (2002)


Força de um Desejo” é uma telenovela brasileira produzida e exibida pelo SBT.
 
Autoria: Gilberto Braga e Alcides Nogueira.
Escrita por: Gilberto Braga, Alcides Nogueira, Sérgio Marques, Lílian Garcia, Eliane Garcia, Filipe Miguez e Márcia Prates.
Colaboração: Marília Garcia.
Direção: Carlos Araújo, João Camargo e Fabrício Mamberti.
Direção geral: Marcos Paulo e Mauro Mendonça Filho.
Direção artística: Marcos Paulo.
 
Exibição original
Período: 5 de agosto de 2002 – 25 de abril de 2003.
Horário: 18h30 – 55ª novela das sete.
Duração: 227 capítulos.
 
Vale a Pena Ver de Novo
Período: desde 4 de agosto de 2025.
Horário: 15h30.
 
TRAMA PRINCIPAL
 
Força de um Desejo” tem início à maneira dos grandes folhetins clássicos, com a narrativa de um amor impossível. Porém, tudo muda quando um assassinato abala os personagens centrais, e a trama se transforma em um envolvente drama policial, repleto de suspeitas, investigações, pistas falsas, mortes misteriosas e reviravoltas surpreendentes. Toda essa história se passa na segunda metade do século XIX, período marcado por profundas transformações políticas e econômicas no Brasil. A novela é inspirada em três obras do Visconde de Taunay: A Retirada de Laguna, Inocência e A Mocidade de Trajano.
 
Nesse contexto de mudança, alguns fazendeiros começam a ascender com o avanço da agroindústria. Um deles é o influente barão Henrique Sobral (Reginaldo Faria), proprietário da fazenda Ouro Verde, localizada na fictícia Vila de Sant’Anna, no Vale do Paraíba. Embora seja um homem de ideias progressistas para a época, simpático ao movimento abolicionista, Sobral impõe uma convivência opressora dentro de casa.
 
Casado com Helena (Sônia Braga), o barão tem dois filhos: Inácio (Fábio Assunção) e Abelardo (Selton Mello). No entanto, apenas Inácio é seu filho legítimo; Abelardo é fruto de uma traição de Helena com o fazendeiro Higino Ventura (Paulo Betti). Mesmo assim, Sobral aceitou criar o menino como seu, mas sem jamais perdoar a esposa – mantendo-a isolada em casa, sem acesso sequer à janela. Revoltado com o tratamento dado à mãe, Inácio parte para o Rio de Janeiro, onde começa a estudar Direito. Lá, conhece Ester Delamare (Malu Mader), dona do bordel mais prestigiado da Corte, por quem se apaixona perdidamente. O romance é interrompido quando Inácio precisa voltar à fazenda após saber que a mãe está doente.
 
Enquanto isso, Abelardo tenta se aproximar do pai assumindo parte dos negócios da fazenda, mas enfrenta dificuldades. A situação piora com a chegada de Higino Ventura, agora um fazendeiro rico e inescrupuloso, acompanhado da esposa Bárbara (Denise Del Vecchio) e da filha Alice (Lavínia Vlasak). Ventura compra a fazenda vizinha e tenta pressionar Sobral a vender Ouro Verde. Além disso, ele quer reconquistar Helena e convence-se de que pode fazê-la abandonar o marido, mas ela o rejeita.
 
O confronto entre os dois homens provoca uma crise emocional em Helena, que revela a Inácio que Abelardo é, na verdade, seu meio-irmão. Mesmo tendo aceitado criá-lo, Sobral nunca superou a traição. Pouco depois de uma breve reconciliação entre o casal, Helena morre subitamente, e o barão ganha novamente o respeito dos filhos ao demonstrar arrependimento.
 
De volta à Corte, Inácio tenta retomar o romance com Ester. Porém, a maquiavélica Idalina (Nathalia Timberg), sogra de Sobral, se opõe à união do neto com uma mulher de classe social inferior. Junto de Alice, que é apaixonada por Inácio, Idalina arma uma farsa: falsifica uma carta, em nome do neto, para afastar Ester. Acreditando ter sido abandonada, Ester parte para Lisboa. Meses depois, ela conhece o próprio barão Sobral – sem saber que ele é pai de Inácio – e se casa com ele.
 
Ao chegar a Ouro Verde como nova baronesa, Ester se vê obrigada a conviver com Inácio. Os dois tentam se evitar, mas aos poucos esclarecem o mal-entendido. Apesar dos sentimentos ainda vivos, Ester recusa-se a abandonar o barão doente. Frustrado e pressionado, Inácio aceita casar-se com Alice. Isso destrói as esperanças de Abelardo, que também era apaixonado por ela.
 
O noivado entre Inácio e Alice é marcado por tensão. Durante a festa, no instante em que os fogos de artifício anunciam a chegada da noiva, o barão Sobral é assassinado. A polícia local logo aponta Inácio como o principal suspeito do crime. O mistério em torno da morte do barão só é resolvido no último capítulo da novela.
 
Inácio, para proteger outros envolvidos, acoberta a morte de Higino Ventura – morto pelo escravo Cristóvão (Alexandre Moreno) ao defender Olívia (Cláudia Abreu), sua companheira. O jornalista Bartolomeu (Daniel Dantas) publica a falsa notícia de que Ventura foi preso pela morte do barão e aponta o capanga Vitório (Antônio Grassi) como cúmplice. Ingenuamente, Vitório revela que a verdadeira assassina foi Bárbara Ventura, que acaba presa e confessa o crime, já em estado de loucura.
 
No desfecho, Idalina e Alice são punidas pelos crimes que cometeram. Inácio e Abelardo assumem juntos a administração da fazenda Ouro Verde, libertam os escravos e passam a pagar salários pelos serviços. Abelardo se noiva de Juliana (Júlia Feldens), e Inácio, enfim, se casa com Ester. Na cena final, ela revela ao marido que está esperando um filho, selando o final feliz dos protagonistas.
 
TRAMAS PARALELAS
 
Olívia e Mariano
Paralelamente à trama principal, se desenvolve a história de Olívia (Cláudia Abreu), uma escrava branca que chega à Vila de Sant’Anna disfarçada, fugindo da polícia após escapar de um vilarejo vizinho. Sua beleza e mistério logo chamam a atenção de Higino Ventura (Paulo Betti), que se torna obcecado por ela. No entanto, Olívia o rejeita e acaba se apaixonando por Mariano Xavier (Marcelo Serrado), um jovem médico idealista.
 
Ao descobrir a origem da moça, Higino usa seu poder para comprá-la como escrava e levá-la para a fazenda Morro Alto. Durante esse período, Olívia enfrenta o assédio persistente do fazendeiro, mas consegue resistir e, com coragem, conquista sua alforria. Livre, ela se casa com Mariano e enfim começa a viver o amor que tanto lutou para ter.
 
Cego de raiva, Higino tenta sequestrá-la, mas é confrontado por Mariano. Durante a luta, o fazendeiro leva um tiro, mas ainda tenta matar o rival com uma faca. É então que o escravo Cristóvão (Alexandre Moreno) surge e, em defesa de Mariano e Olívia, mata Higino com um golpe certeiro de facão.
 
O casal Ventura
Por trás de uma aparência frágil e submissa, Bárbara Ventura (Denise Del Vecchio) esconde uma mente fria e calculista. Casada com Higino Ventura (Paulo Betti), ela era capaz de tudo para manter o casamento e proteger os interesses do marido — mesmo que isso significasse eliminar qualquer pessoa que representasse uma ameaça.
 
Antes mesmo de chegar à Vila de Sant’Anna, Bárbara já havia assassinado um antigo sócio do marido que se recusara a compactuar com seus esquemas, uma costureira que ela julgava interessada em Higino e até uma amante, temendo ser trocada por ela. O padrão de violência só se intensifica quando percebe o interesse do marido por Helena (Sônia Braga), esposa do barão Sobral (Reginaldo Faria).
 
Decidida a agir, Bárbara envia à fazenda Ouro Verde a escrava Luzia (Isabel Fillardis) com um frasco de um veneno raro escondido entre os remédios da baronesa. A substância, ministrada inadvertidamente pelo Dr. Xavier (Nelson Dantas), causa a morte de Helena. Quando o médico descobre o envenenamento, comete o erro de confidenciar tudo a Vitório (Antônio Grassi), capanga de Higino. Resultado: torna-se mais uma vítima de Bárbara, assassinada para que o segredo não fosse revelado.
 
A lista de mortes provocadas por ela inclui ainda o padre Olinto (Abrãao Farc), que, após ouvir sua confissão, passou a pressioná-la para que se entregasse à justiça. Quando o barão Sobral descobre que um amigo seu também havia morrido após receber os mesmos remédios dados à esposa, decide investigar. O exame confirma a presença de veneno nos frascos.
 
Ligando as pistas, Sobral descobre que os remédios vieram de Morro Alto justamente na noite da morte de Helena. Ele planeja confrontar Alice (Lavínia Vlasak) durante a festa de noivado da jovem com seu filho, Inácio. No entanto, Bárbara se antecipa. Disfarçada de amiga, tenta envenenar também o barão. Ao ser desmascarada por ele, perde o controle e comete mais um crime: atira em Sobral, encerrando de forma trágica e violenta sua trajetória de crimes.
 
AUDIÊNCIA
 
Força de um Desejo” alcançou uma média geral de 33,6 pontos, consolidando-se como um desempenho sólido para a faixa das 18h do  SBT. A novela superou títulos como “Pecado Capital” (31,3) e “O Amor Está no Ar” (32,0), e ficou muito próxima de “Era Uma Vez...” (34,1), sendo apenas superada, naquela virada de década, por “Anjo Mau”, que registrou expressivos 36,7 pontos.
 
O primeiro capítulo registrou 37,7 pontos de média, o maior índice desde “História de Amor”, que registrou 42,6 em 1998. Já o último capítulo da trama rendeu 44,4 de média e 48 de pico, acima das duas antecessoras “Pecado Capital” (37,2) e “Era Uma Vez...” (42,6).
 
As últimas semanas da novela, entre março e abril de 2003, foram marcadas por forte crescimento na audiência. O aumento expressivo demonstra o fôlego da produção e o envolvimento progressivo do público com a trama.
 
PRODUÇÃO
 
Como as paisagens históricas do Rio de Janeiro têm se tornado cada vez mais raras, a equipe de efeitos visuais de “Força de um Desejo” recorreu a imagens antigas da cidade, digitalmente adaptadas, para compor algumas cenas da novela. Um dos momentos marcantes da estreia – a apresentação do terceiro ato de As Bodas de Fígaro, de Mozart – foi gravado no Teatro Municipal de Niterói, com a participação de 100 figurantes. Outras locações incluíram a praia de Grumari, o Alto da Boa Vista e o Forte São João, na Urca.
 
A consultora Clarisse Fukelman realizou uma extensa pesquisa sobre o século XIX, fornecendo à equipe de figurino, caracterização, cenografia e direção de arte um rico material de referência histórica.
 
Figurino e Caracterização
A caracterização dos atores, sempre mais trabalhosa em tramas de época, foi coordenada por Marlene Moura. Entre os elementos usados, estavam penteados com risca central, costeletas para os homens, e apliques longos, vestidos estruturados e maquiagem em tons pastel para as mulheres. Alguns intérpretes, como Dira Paes (Palmira), Daniel Dantas (Bartolomeu), Chico Diaz (Clemente) e Malu Mader (Ester), recorreram ao interlace para alongar os cabelos. Malu também usou cílios postiços. Já José de Abreu teve parte da cabeça raspada e incorporou uma barriga falsa para compor o personagem português Pereira.
 
A caracterização dos nobres foi inspirada no clássico O Leopardo (1963), de Luchino Visconti. Já os figurinos, desenhados por Beth Filipecki, consumiram 3 mil metros de tecidos como linho, seda pura, tafetás, adamascados ingleses e fibras naturais – estas últimas utilizadas nas roupas dos personagens escravizados. O guarda-roupa de Ester teve como inspiração o estilo da imperatriz austríaca Sissi. Muitas peças foram confeccionadas fora dos estúdios do SBT, com materiais importados especialmente para a novela.
 
Cenografia e Direção de Arte
Para criar a cidade fictícia de Vila de Sant’Anna, erguida nos Estúdios SBT (Projac), a equipe se baseou na arquitetura colonial de cidades históricas mineiras como Ouro Preto e Tiradentes. As fazendas dos personagens Henrique Sobral (Reginaldo Faria) e Higino Ventura (Paulo Betti) também foram inspiradas em propriedades centenárias de Minas Gerais, Rio e São Paulo. A estação de trem usada na cena da inauguração da estrada de ferro Rio–Vassouras foi montada em uma estação desativada próxima a Teresópolis. Parte da estrutura cenográfica da minissérie “Chiquinha Gonzaga” (1999) foi reutilizada na novela.
 
Para manter a verossimilhança da ambientação, fios e postes modernos foram ocultados, pisos de cimento foram camuflados e as lâmpadas substituídas por velas. A fotografia, assinada por Carlos Botelho e Nonato Estrela, foi fortemente influenciada pelo visual do filme Barry Lyndon (1975), de Stanley Kubrick. As cenas noturnas ganharam iluminação âmbar, com destaque para a luz das velas.
 
A equipe de produção de arte também reformou e adaptou peças antigas compradas em antiquários. Um exemplo foi a restauração de uma antiga prensa gráfica, utilizada nas cenas do personagem Bartolomeu, dono do jornal local.
 
Curiosidades
A sinopse de “Força de um Desejo” foi originalmente escrita por Alcides Nogueira nos anos 1980, mas o projeto só saiu do papel em 2001, quando Gilberto Braga foi convidado a desenvolvê-la a pedido da emissora. Alcides aceitou dividir a autoria da nova novela das 18h com Braga.
 
Antes das gravações, o elenco participou de um workshop de duas semanas com quatro palestras ministradas por professores universitários. Os temas abordaram o Brasil Imperial, o cotidiano das fazendas e senzalas, o Romantismo e a Mitologia. Atores ainda receberam treinamento em esgrima, equitação, caligrafia e técnicas de corpo e voz, com o objetivo de absorverem os gestos e posturas da época. O núcleo dos escravizados incorporou elementos da cultura Bantu, de origem africana.
 
A novela marcou o retorno de Sônia Braga ao SBT após duas décadas afastada das telenovelas – sua última havia sido “Chega Mais” (1984), de Carlos Eduardo Novaes. Também foi o último trabalho na televisão de José Lewgoy, que interpretou o Conselheiro Felício Cantuária. O personagem foi criado por Gilberto Braga a pedido do próprio ator, que inicialmente participaria apenas das primeiras semanas da trama, mas permaneceu até o desfecho da história.
 
Força de um Desejo” foi vendida para 15 países, como Espanha, Itália, Rússia, Nicarágua, Canadá, Venezuela e Portugal, onde foi exibida no mesmo ano da estreia brasileira.
 
Anos depois, em 2021, Malu Mader voltou a viver Ester Delamare em uma participação especial na novela “Tempo de Amar”, de Alcides Nogueira, ambientada nos anos 1920. Na trama, Ester aparece no recital de estreia da filha, a cantora Carolina Sobral (Mayana Moura), retomando simbolicamente sua trajetória.
 
Abertura
A abertura de “Força de um Desejo” foi embalada por uma raridade musical: Tema para Ana, uma valsa composta por Tom Jobim para sua esposa pouco antes de sua morte, em 1994. A canção ganhou arranjo de Jacques Morelenbaum e foi interpretada pela Orquestra Sinfônica Brasileira, com Cristóvão Bastos ao piano. A trilha reforçava o tom romântico e nostálgico da novela, ajudando a transportar o público para o universo do século XIX.

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