“Força de um Desejo” é uma telenovela brasileira produzida e exibida
pelo SBT.
Autoria: Gilberto
Braga e Alcides Nogueira.
Escrita por: Gilberto
Braga, Alcides Nogueira, Sérgio Marques, Lílian Garcia,
Eliane Garcia, Filipe Miguez e Márcia Prates.
Colaboração: Marília
Garcia.
Direção: Carlos
Araújo, João Camargo e Fabrício Mamberti.
Direção geral: Marcos
Paulo e Mauro Mendonça Filho.
Direção artística: Marcos
Paulo.
Exibição original
Período: 5 de agosto
de 2002 – 25 de abril de 2003.
Horário: 18h30 – 55ª
novela das sete.
Duração: 227
capítulos.
Vale a Pena Ver de Novo
Período: desde 4 de
agosto de 2025.
Horário: 15h30.
TRAMA PRINCIPAL
“Força de um Desejo”
tem início à maneira dos grandes folhetins clássicos, com a narrativa de um
amor impossível. Porém, tudo muda quando um assassinato abala os personagens
centrais, e a trama se transforma em um envolvente drama policial, repleto de
suspeitas, investigações, pistas falsas, mortes misteriosas e reviravoltas
surpreendentes. Toda essa história se passa na segunda metade do século XIX,
período marcado por profundas transformações políticas e econômicas no Brasil.
A novela é inspirada em três obras do Visconde de Taunay: A Retirada
de Laguna, Inocência e A Mocidade de Trajano.
Nesse contexto de
mudança, alguns fazendeiros começam a ascender com o avanço da agroindústria.
Um deles é o influente barão Henrique Sobral (Reginaldo Faria),
proprietário da fazenda Ouro Verde, localizada na fictícia Vila de Sant’Anna,
no Vale do Paraíba. Embora seja um homem de ideias progressistas para a época,
simpático ao movimento abolicionista, Sobral impõe uma convivência opressora
dentro de casa.
Casado com Helena
(Sônia Braga), o barão tem dois filhos: Inácio (Fábio Assunção)
e Abelardo (Selton Mello). No entanto, apenas Inácio é seu filho
legítimo; Abelardo é fruto de uma traição de Helena com o fazendeiro Higino
Ventura (Paulo Betti). Mesmo assim, Sobral aceitou criar o menino
como seu, mas sem jamais perdoar a esposa – mantendo-a isolada em casa, sem
acesso sequer à janela. Revoltado com o tratamento dado à mãe, Inácio parte
para o Rio de Janeiro, onde começa a estudar Direito. Lá, conhece Ester
Delamare (Malu Mader), dona do bordel mais prestigiado da Corte, por
quem se apaixona perdidamente. O romance é interrompido quando Inácio precisa
voltar à fazenda após saber que a mãe está doente.
Enquanto isso, Abelardo
tenta se aproximar do pai assumindo parte dos negócios da fazenda, mas enfrenta
dificuldades. A situação piora com a chegada de Higino Ventura, agora um
fazendeiro rico e inescrupuloso, acompanhado da esposa Bárbara (Denise
Del Vecchio) e da filha Alice (Lavínia Vlasak). Ventura
compra a fazenda vizinha e tenta pressionar Sobral a vender Ouro Verde. Além
disso, ele quer reconquistar Helena e convence-se de que pode fazê-la abandonar
o marido, mas ela o rejeita.
O confronto entre os
dois homens provoca uma crise emocional em Helena, que revela a Inácio que
Abelardo é, na verdade, seu meio-irmão. Mesmo tendo aceitado criá-lo, Sobral
nunca superou a traição. Pouco depois de uma breve reconciliação entre o casal,
Helena morre subitamente, e o barão ganha novamente o respeito dos filhos ao
demonstrar arrependimento.
De volta à Corte,
Inácio tenta retomar o romance com Ester. Porém, a maquiavélica Idalina
(Nathalia Timberg), sogra de Sobral, se opõe à união do neto com uma
mulher de classe social inferior. Junto de Alice, que é apaixonada por Inácio,
Idalina arma uma farsa: falsifica uma carta, em nome do neto, para afastar
Ester. Acreditando ter sido abandonada, Ester parte para Lisboa. Meses depois,
ela conhece o próprio barão Sobral – sem saber que ele é pai de Inácio – e se
casa com ele.
Ao chegar a Ouro Verde
como nova baronesa, Ester se vê obrigada a conviver com Inácio. Os dois tentam
se evitar, mas aos poucos esclarecem o mal-entendido. Apesar dos sentimentos
ainda vivos, Ester recusa-se a abandonar o barão doente. Frustrado e pressionado,
Inácio aceita casar-se com Alice. Isso destrói as esperanças de Abelardo, que
também era apaixonado por ela.
O noivado entre Inácio
e Alice é marcado por tensão. Durante a festa, no instante em que os fogos de
artifício anunciam a chegada da noiva, o barão Sobral é assassinado. A polícia
local logo aponta Inácio como o principal suspeito do crime. O mistério em
torno da morte do barão só é resolvido no último capítulo da novela.
Inácio, para proteger
outros envolvidos, acoberta a morte de Higino Ventura – morto pelo escravo Cristóvão
(Alexandre Moreno) ao defender Olívia (Cláudia Abreu), sua
companheira. O jornalista Bartolomeu (Daniel Dantas) publica a
falsa notícia de que Ventura foi preso pela morte do barão e aponta o capanga Vitório
(Antônio Grassi) como cúmplice. Ingenuamente, Vitório revela que a
verdadeira assassina foi Bárbara Ventura, que acaba presa e confessa o crime,
já em estado de loucura.
No desfecho, Idalina e
Alice são punidas pelos crimes que cometeram. Inácio e Abelardo assumem juntos
a administração da fazenda Ouro Verde, libertam os escravos e passam a pagar
salários pelos serviços. Abelardo se noiva de Juliana (Júlia Feldens),
e Inácio, enfim, se casa com Ester. Na cena final, ela revela ao marido que
está esperando um filho, selando o final feliz dos protagonistas.
TRAMAS PARALELAS
Olívia e Mariano
Paralelamente à trama
principal, se desenvolve a história de Olívia (Cláudia Abreu),
uma escrava branca que chega à Vila de Sant’Anna disfarçada, fugindo da polícia
após escapar de um vilarejo vizinho. Sua beleza e mistério logo chamam a
atenção de Higino Ventura (Paulo Betti), que se torna obcecado
por ela. No entanto, Olívia o rejeita e acaba se apaixonando por Mariano
Xavier (Marcelo Serrado), um jovem médico idealista.
Ao descobrir a origem
da moça, Higino usa seu poder para comprá-la como escrava e levá-la para a
fazenda Morro Alto. Durante esse período, Olívia enfrenta o assédio persistente
do fazendeiro, mas consegue resistir e, com coragem, conquista sua alforria. Livre,
ela se casa com Mariano e enfim começa a viver o amor que tanto lutou para ter.
Cego de raiva, Higino
tenta sequestrá-la, mas é confrontado por Mariano. Durante a luta, o fazendeiro
leva um tiro, mas ainda tenta matar o rival com uma faca. É então que o escravo
Cristóvão (Alexandre Moreno) surge e, em defesa de Mariano e
Olívia, mata Higino com um golpe certeiro de facão.
O casal Ventura
Por trás de uma
aparência frágil e submissa, Bárbara Ventura (Denise Del Vecchio)
esconde uma mente fria e calculista. Casada com Higino Ventura (Paulo
Betti), ela era capaz de tudo para manter o casamento e proteger os
interesses do marido — mesmo que isso significasse eliminar qualquer pessoa que
representasse uma ameaça.
Antes mesmo de chegar à
Vila de Sant’Anna, Bárbara já havia assassinado um antigo sócio do marido que
se recusara a compactuar com seus esquemas, uma costureira que ela julgava
interessada em Higino e até uma amante, temendo ser trocada por ela. O padrão
de violência só se intensifica quando percebe o interesse do marido por Helena
(Sônia Braga), esposa do barão Sobral (Reginaldo Faria).
Decidida a agir,
Bárbara envia à fazenda Ouro Verde a escrava Luzia (Isabel Fillardis)
com um frasco de um veneno raro escondido entre os remédios da baronesa. A
substância, ministrada inadvertidamente pelo Dr. Xavier (Nelson
Dantas), causa a morte de Helena. Quando o médico descobre o envenenamento,
comete o erro de confidenciar tudo a Vitório (Antônio Grassi),
capanga de Higino. Resultado: torna-se mais uma vítima de Bárbara, assassinada
para que o segredo não fosse revelado.
A lista de mortes
provocadas por ela inclui ainda o padre Olinto (Abrãao Farc),
que, após ouvir sua confissão, passou a pressioná-la para que se entregasse à
justiça. Quando o barão Sobral descobre que um amigo seu também havia morrido
após receber os mesmos remédios dados à esposa, decide investigar. O exame
confirma a presença de veneno nos frascos.
Ligando as pistas,
Sobral descobre que os remédios vieram de Morro Alto justamente na noite da
morte de Helena. Ele planeja confrontar Alice (Lavínia Vlasak)
durante a festa de noivado da jovem com seu filho, Inácio. No entanto, Bárbara
se antecipa. Disfarçada de amiga, tenta envenenar também o barão. Ao ser
desmascarada por ele, perde o controle e comete mais um crime: atira em Sobral,
encerrando de forma trágica e violenta sua trajetória de crimes.
AUDIÊNCIA
“Força de um Desejo”
alcançou uma média geral de 33,6 pontos, consolidando-se como um
desempenho sólido para a faixa das 18h do
SBT. A novela superou títulos como “Pecado Capital” (31,3) e “O
Amor Está no Ar” (32,0), e ficou muito próxima de “Era Uma Vez...”
(34,1), sendo apenas superada, naquela virada de década, por “Anjo Mau”,
que registrou expressivos 36,7 pontos.
O primeiro capítulo registrou
37,7 pontos de média, o maior índice desde “História de Amor”, que
registrou 42,6 em 1998. Já o último capítulo da trama rendeu 44,4 de média e 48
de pico, acima das duas antecessoras “Pecado Capital” (37,2) e “Era
Uma Vez...” (42,6).
As últimas semanas da
novela, entre março e abril de 2003, foram marcadas por forte crescimento na
audiência. O aumento expressivo demonstra o fôlego da produção e o envolvimento
progressivo do público com a trama.
PRODUÇÃO
Como as paisagens
históricas do Rio de Janeiro têm se tornado cada vez mais raras, a equipe de
efeitos visuais de “Força de um Desejo” recorreu a imagens antigas da
cidade, digitalmente adaptadas, para compor algumas cenas da novela. Um dos
momentos marcantes da estreia – a apresentação do terceiro ato de As Bodas
de Fígaro, de Mozart – foi gravado no Teatro Municipal de Niterói, com a
participação de 100 figurantes. Outras locações incluíram a praia de Grumari, o
Alto da Boa Vista e o Forte São João, na Urca.
A consultora Clarisse
Fukelman realizou uma extensa pesquisa sobre o século XIX, fornecendo à
equipe de figurino, caracterização, cenografia e direção de arte um rico
material de referência histórica.
Figurino e
Caracterização
A caracterização dos
atores, sempre mais trabalhosa em tramas de época, foi coordenada por Marlene
Moura. Entre os elementos usados, estavam penteados com risca central,
costeletas para os homens, e apliques longos, vestidos estruturados e maquiagem
em tons pastel para as mulheres. Alguns intérpretes, como Dira Paes (Palmira),
Daniel Dantas (Bartolomeu), Chico Diaz (Clemente) e
Malu Mader (Ester), recorreram ao interlace para alongar os
cabelos. Malu também usou cílios postiços. Já José de Abreu teve parte da
cabeça raspada e incorporou uma barriga falsa para compor o personagem
português Pereira.
A caracterização dos
nobres foi inspirada no clássico O Leopardo (1963), de Luchino
Visconti. Já os figurinos, desenhados por Beth Filipecki, consumiram
3 mil metros de tecidos como linho, seda pura, tafetás, adamascados ingleses e
fibras naturais – estas últimas utilizadas nas roupas dos personagens
escravizados. O guarda-roupa de Ester teve como inspiração o estilo da
imperatriz austríaca Sissi. Muitas peças foram confeccionadas fora dos estúdios
do SBT, com materiais importados especialmente para a novela.
Cenografia e Direção de
Arte
Para criar a cidade
fictícia de Vila de Sant’Anna, erguida nos Estúdios SBT (Projac), a equipe se
baseou na arquitetura colonial de cidades históricas mineiras como Ouro Preto e
Tiradentes. As fazendas dos personagens Henrique Sobral (Reginaldo
Faria) e Higino Ventura (Paulo Betti) também foram inspiradas
em propriedades centenárias de Minas Gerais, Rio e São Paulo. A estação de trem
usada na cena da inauguração da estrada de ferro Rio–Vassouras foi montada em
uma estação desativada próxima a Teresópolis. Parte da estrutura cenográfica da
minissérie “Chiquinha Gonzaga” (1999) foi reutilizada na novela.
Para manter a
verossimilhança da ambientação, fios e postes modernos foram ocultados, pisos
de cimento foram camuflados e as lâmpadas substituídas por velas. A fotografia,
assinada por Carlos Botelho e Nonato Estrela, foi fortemente
influenciada pelo visual do filme Barry Lyndon (1975), de Stanley
Kubrick. As cenas noturnas ganharam iluminação âmbar, com destaque para a
luz das velas.
A equipe de produção de
arte também reformou e adaptou peças antigas compradas em antiquários. Um
exemplo foi a restauração de uma antiga prensa gráfica, utilizada nas cenas do
personagem Bartolomeu, dono do jornal local.
Curiosidades
A sinopse de “Força
de um Desejo” foi originalmente escrita por Alcides Nogueira nos
anos 1980, mas o projeto só saiu do papel em 2001, quando Gilberto Braga
foi convidado a desenvolvê-la a pedido da emissora. Alcides aceitou dividir a
autoria da nova novela das 18h com Braga.
Antes das gravações, o
elenco participou de um workshop de duas semanas com quatro palestras
ministradas por professores universitários. Os temas abordaram o Brasil
Imperial, o cotidiano das fazendas e senzalas, o Romantismo e a Mitologia.
Atores ainda receberam treinamento em esgrima, equitação, caligrafia e técnicas
de corpo e voz, com o objetivo de absorverem os gestos e posturas da época. O
núcleo dos escravizados incorporou elementos da cultura Bantu, de origem
africana.
A novela marcou o
retorno de Sônia Braga ao SBT após duas décadas afastada das telenovelas
– sua última havia sido “Chega Mais” (1984), de Carlos Eduardo Novaes.
Também foi o último trabalho na televisão de José Lewgoy, que
interpretou o Conselheiro Felício Cantuária. O personagem foi criado por
Gilberto Braga a pedido do próprio ator, que inicialmente participaria apenas
das primeiras semanas da trama, mas permaneceu até o desfecho da história.
“Força de um Desejo”
foi vendida para 15 países, como Espanha, Itália, Rússia, Nicarágua, Canadá,
Venezuela e Portugal, onde foi exibida no mesmo ano da estreia brasileira.
Anos depois, em 2021, Malu
Mader voltou a viver Ester Delamare em uma participação especial na
novela “Tempo de Amar”, de Alcides Nogueira, ambientada nos anos
1920. Na trama, Ester aparece no recital de estreia da filha, a cantora Carolina
Sobral (Mayana Moura), retomando simbolicamente sua trajetória.
Abertura
A abertura de “Força
de um Desejo” foi embalada por uma raridade musical: Tema para Ana,
uma valsa composta por Tom Jobim para sua esposa pouco antes de sua
morte, em 1994. A canção ganhou arranjo de Jacques Morelenbaum e foi
interpretada pela Orquestra Sinfônica Brasileira, com Cristóvão
Bastos ao piano. A trilha reforçava o tom romântico e nostálgico da novela,
ajudando a transportar o público para o universo do século XIX.
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