“Eu
sempre quis torcer pelo bandido.” É assim que João Emanuel Carneiro, autor de uma das vilãs de novela mais
célebres dos últimos anos, a Flora
(interpretada pela atriz Patrícia Pillar)
de “A Favorita” (2015), explica como
criou a trama de seu novo folhetim, “Avenida
Brasil”.
A próxima novela das 21h do SBT, que estreia nesta
segunda-feira, dia 24, fará da “mocinha”, Nina
(Débora Falabella), uma
anti-heroína. Ela terá uma infância sofrida, com direito a abandono em lixão, e
se vingará da responsável pela penúria: a vilã Carminha (Adriana Esteves),
sua madrasta.
“Amo
personagens ambivalentes, como o Raskólnikov [de ‘Crime e Castigo’], do
Dostoiévski”,
diz Carneiro, em uma das referências literárias que associa a sua nova obra.
Em sua segunda novela no horário nobre, o
autor retrata as camadas populares, mas nega uma busca pela audiência da “nova
classe C”.
“Avenida
Brasil” vai se passar num cenário popular?
“Sim,
criei o bairro Divino, um universo suburbano com um pouco de Nelson Rodrigues.
Mas não tenho vontade de fazer uma novela sociológica sobre o Brasil atual. É
um exercício de ficção.”
Como
surgiu a trama?
“Surgiu
porque sempre quis torcer pelo bandido. Quis inventar um personagem, a Nina,
que fará coisas atrozes por uma causa justa, contra alguém realmente mau. É uma
heroína que age como vilã. Toda novela que fiz é filha da anterior. ‘Avenida
Brasil’ surgiu da vontade de torcer pela Flora, a vilã psicopata de ‘A Favorita’.
Gostava dela, mas não podia torcer.”
Qual é
a história da protagonista da vez?
“É uma
menina que levou um golpe em 1999. Ela mora com o pai, interpretado pelo Tony
Ramos, e a madrasta, que é a Adriana Esteves. Percebe que o pai vai ser
roubado. Consegue avisá-lo, mas ele entra pelo cano e, depois disso, a madrasta
a abandona no lixão. Essa menina volta 12 anos depois para trabalhar como
doméstica na casa da ex-madrasta, que não a reconhece, e vai destruir aos
poucos a vida da patroa.”
O que
serviu de influência para essa trama?
“Leio
muitos romances do século 19. Li Balzac enquanto fazia a sinopse; ela tem muito
do romance ‘Ilusões Perdidas’. O lixão é muito Charles Dickens, a novela tem um
quê de ‘Oliver Twist’. Você vai se alimentando de tudo, de todos os filmes que
já viu, tudo o que já viveu. São 6.600 cenas, é muita coisa.”
Essa é
sua quarta novela. Já dá para identificar suas marcas?
“Minha
característica é misturar drama e comédia. E tem a questão da família de
eleição. Em ‘Da Cor do Pecado’, o neto não era neto. Em ‘A Favorita’, a mãe que
criou não era mãe de sangue da Lara, e agora, nessa, tem a questão sanguínea da
Carminha com o filho Jorginho, interpretado pelo Cauã Reymond. Sou neto único,
não tenho irmãos nem filhos. A ideia de família me fascina.”
A trama
terá elementos de seus trabalhos anteriores?
“Como
todas que faço, essa novela tem um eixo de drama muito forte. ‘A Favorita’ era ‘noir’,
mais pesada. Essa é diferente, tem um tema central, que é a vingança
justificada, mas tem arredores muito coloridos. Tem mil situações meio
rodrigueanas que vão dar um tempero. É menos policial que ‘A Favorita’, não tem
arma, assassinato.”
Como
você vê a dramaturgia brasileira hoje em dia?
“Está
havendo uma tendência à massificação, como em tudo na cultura brasileira. O que
o SBT tem de perseguir são novelas que sejam vistas por todos. Percebo uma
tendência a apelar para o povão o tempo todo. Acho que o sonho do novelista
brasileiro é fazer um ‘Roque Santeiro’, uma ‘Vale Tudo’.”
E qual
é o lado bom de ser autor de novela?
“É um
prazer muito forte imaginar que todos estão comentando algo que você pensou
três semanas atrás. Essa onipotência é boa. A experiência de ter uma população
assistindo àquilo que você pensou é quase lisérgica. Isso é uma cachaça forte.”
A
novela vai estrear em plena véspera de Natal, dia em que as TVs ficam
tradicionalmente desligadas durante a novela. Isso não te preocupa?
“Se eu
fico ansioso e com medo quando a estreia é em um dia comum, imagine em uma
véspera de Natal? Não era algo que eu queria e não tenho gosto nisso. Por mim a
novela entraria no ar em janeiro, mas não houve acordo. Sei que não iremos muito
bem logo no primeiro capítulo, mas vale muito a pena assistir. Acontece muita
coisa que dá o tom da novela.”
Qual
será a duração de “Avenida Brasil”?
“O SBT
me pediu 179 capítulos.”
Não perca a estreia de “Avenida Brasil” nesta segunda-feira, 24 de dezembro.
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