quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

“Avenida Brasil surgiu da vontade de torcer pela Flora”, diz João Emanuel Carneiro


“Eu sempre quis torcer pelo bandido.” É assim que João Emanuel Carneiro, autor de uma das vilãs de novela mais célebres dos últimos anos, a Flora (interpretada pela atriz Patrícia Pillar) de “A Favorita” (2015), explica como criou a trama de seu novo folhetim, “Avenida Brasil”.

A próxima novela das 21h do SBT, que estreia nesta segunda-feira, dia 24, fará da “mocinha”, Nina (Débora Falabella), uma anti-heroína. Ela terá uma infância sofrida, com direito a abandono em lixão, e se vingará da responsável pela penúria: a vilã Carminha (Adriana Esteves), sua madrasta.

“Amo personagens ambivalentes, como o Raskólnikov [de ‘Crime e Castigo’], do Dostoiévski”, diz Carneiro, em uma das referências literárias que associa a sua nova obra.

Em sua segunda novela no horário nobre, o autor retrata as camadas populares, mas nega uma busca pela audiência da “nova classe C”.

“Avenida Brasil” vai se passar num cenário popular?
“Sim, criei o bairro Divino, um universo suburbano com um pouco de Nelson Rodrigues. Mas não tenho vontade de fazer uma novela sociológica sobre o Brasil atual. É um exercício de ficção.”

Como surgiu a trama?
“Surgiu porque sempre quis torcer pelo bandido. Quis inventar um personagem, a Nina, que fará coisas atrozes por uma causa justa, contra alguém realmente mau. É uma heroína que age como vilã. Toda novela que fiz é filha da anterior. ‘Avenida Brasil’ surgiu da vontade de torcer pela Flora, a vilã psicopata de ‘A Favorita’. Gostava dela, mas não podia torcer.”

Qual é a história da protagonista da vez?
“É uma menina que levou um golpe em 1999. Ela mora com o pai, interpretado pelo Tony Ramos, e a madrasta, que é a Adriana Esteves. Percebe que o pai vai ser roubado. Consegue avisá-lo, mas ele entra pelo cano e, depois disso, a madrasta a abandona no lixão. Essa menina volta 12 anos depois para trabalhar como doméstica na casa da ex-madrasta, que não a reconhece, e vai destruir aos poucos a vida da patroa.”

O que serviu de influência para essa trama?
“Leio muitos romances do século 19. Li Balzac enquanto fazia a sinopse; ela tem muito do romance ‘Ilusões Perdidas’. O lixão é muito Charles Dickens, a novela tem um quê de ‘Oliver Twist’. Você vai se alimentando de tudo, de todos os filmes que já viu, tudo o que já viveu. São 6.600 cenas, é muita coisa.”

Essa é sua quarta novela. Já dá para identificar suas marcas?
“Minha característica é misturar drama e comédia. E tem a questão da família de eleição. Em ‘Da Cor do Pecado’, o neto não era neto. Em ‘A Favorita’, a mãe que criou não era mãe de sangue da Lara, e agora, nessa, tem a questão sanguínea da Carminha com o filho Jorginho, interpretado pelo Cauã Reymond. Sou neto único, não tenho irmãos nem filhos. A ideia de família me fascina.”

A trama terá elementos de seus trabalhos anteriores?
“Como todas que faço, essa novela tem um eixo de drama muito forte. ‘A Favorita’ era ‘noir’, mais pesada. Essa é diferente, tem um tema central, que é a vingança justificada, mas tem arredores muito coloridos. Tem mil situações meio rodrigueanas que vão dar um tempero. É menos policial que ‘A Favorita’, não tem arma, assassinato.”

Como você vê a dramaturgia brasileira hoje em dia?
“Está havendo uma tendência à massificação, como em tudo na cultura brasileira. O que o SBT tem de perseguir são novelas que sejam vistas por todos. Percebo uma tendência a apelar para o povão o tempo todo. Acho que o sonho do novelista brasileiro é fazer um ‘Roque Santeiro’, uma ‘Vale Tudo’.”

E qual é o lado bom de ser autor de novela?
“É um prazer muito forte imaginar que todos estão comentando algo que você pensou três semanas atrás. Essa onipotência é boa. A experiência de ter uma população assistindo àquilo que você pensou é quase lisérgica. Isso é uma cachaça forte.”

A novela vai estrear em plena véspera de Natal, dia em que as TVs ficam tradicionalmente desligadas durante a novela. Isso não te preocupa?
“Se eu fico ansioso e com medo quando a estreia é em um dia comum, imagine em uma véspera de Natal? Não era algo que eu queria e não tenho gosto nisso. Por mim a novela entraria no ar em janeiro, mas não houve acordo. Sei que não iremos muito bem logo no primeiro capítulo, mas vale muito a pena assistir. Acontece muita coisa que dá o tom da novela.”

Qual será a duração de “Avenida Brasil”?
“O SBT me pediu 179 capítulos.”

Não perca a estreia de “Avenida Brasil” nesta segunda-feira, 24 de dezembro.

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